Acompanho com muita atenção e preocupação alguns posts importantes sobre o pouco estímulo da juventude em cursar engenharia e toda a cadeia produtiva das áreas tecnológicas inerentes. Vejo argumentos e explicações bastante consistentes e bem complexos, quase sempre complementares entre si.
Sempre acabo me lembrando, nestas ocasiões, de uma palestra que fiz certa vez para os formandos de Engenharia Civil da Poli, que ocorreu durante uma das guerras do Iraque, em que eu alertava aos jovens engenheiros que o que estava sendo bombardeado e destruído ali era muito conhecimento e muito suor de trabalhadores brasileiros…
É tão bom lembrar dos grandes feitos e das grandes conquistas de nosso povo.
Não obstante, ver o orgulho de nossos dirigentes ao transferirem bilhões e bilhões de dólares para países estrangeiros e lhes entregarem as grandes obras de infraestrutura brasileiras como toda a expansão ferroviária, o metrô das grandes capitais São Paulo à frente, o túnel Santos Guarujá e outras tantas, nos dá algumas pistas sobre esta marcante falta de vontade de estudar engenharia e seguir carreira.
Esta transferência de recursos preciosos a países estrangeiros, alguns deles com engenharias similares ou talvez até menos desenvolvidas do que a nossa, mesmo comparado com o pouco que sobrou da combalida engenharia nacional pós desmonte provocado pela “lava jato” me parece, no entanto, uma explicação menos sofisticada, mais óbvia, mais simples, mas bastante plausível e bem provável.
O Brasil teve, desde Brasília, e a partir de lá, dois momentos brilhantes, dois apogeus na engenharia nacional, quando exportávamos conhecimento, tecnologia, máquinas e equipamentos, financiamentos e até mesmo mão de obra.
Foram na década de 1970, com o PND por aqui e com a África e o Oriente Médio como alvos principais (onde fomos substituídos por EUA e China) e depois nos anos 2.000, quando tivemos o PAC internamente e a América Latina e mais uma vez a África como nossos alvos principais. Batendo de frente com a China.
Pois bem.
Uma bem feita campanha de abatimento do moral interno – quem não se lembra do “não vai ter copa” e dos inúmeros editoriais dizendo ser um absurdo o Brasil exportar portos, pontes e metrôs – e uma lava jato que mirou as empresas e a tecnologia e não seus fraudadores depois, o que temos é que até para empresas mexicanas, portuguesas e espanholas estamos entregando dólares e colhendo caixas pretas. Como quase fizemos com a Embraer, já fizemos com a Embratel e a telefonia, com o metrô, e hoje fizemos com o túnel do Porto de Santos.
Sei que sou um Policarpo Quaresma anacrônico, mas não posso deixar de dar um “Viva” à engenharia brasileira e toda sua cadeia produtiva e de conhecimento.
Valter Caldana