FELIZ 2029

07 de setembro de 2024
Falta um mês para as eleições

A eleição municipal é a mais tangível, real e sempre a mais contraditória.

Por um lado, é incômoda e até irritante em função da superficialidade e a quase irresponsabilidade do que se ouve: propostas impertinentes, inconsistentes e incoerentes apresentadas como panaceia, claramente irrealizáveis ou, pior, desvinculadas de qualquer objetivo de médio ou longo prazo.

Provoca inconformismo, também, a recorrente falta de explicitação de um projeto integrador, que articule a infindável lista de promessas e que apresente em sua totalidade o que a candidatura está propondo. Suas motivações, suas posições, suas verdadeiras intenções. A quem interessa quase sempre é mais importante do que a quem atende, pois está diretamente vinculado a um fator essencial, que é saber como atende.

Para avançar bastaria algo simples, assim como uma fala que inclua “a cidade que propomos e pretendemos ter daqui quatro anos terá estas características, será assim: papapá, pipipi, popopó. Este é o nosso projeto, e para que ele se realize as principais políticas públicas que desenvolveremos serão estas e as principais obras estas daqui”. E então as mostra, em todos os seus principais aspectos.

Não entendeu? Quer que desenhe?

Sim! Quero que desenhe. Quero entender, dirá o cidadão, a cidadã comum, nós, estes agentes prioritários e ordinários da Democracia, seres urbanos que são, somos, antes de mais nada seres humanos.

Porém, infelizmente não adianta esperar, essa clareza não existe.
Não que as candidaturas não a tenham. Tem, tem sim!

Como sempre digo, esta é uma cidade minuciosamente planejada e cada candidatura sabe muito bem o que quer, quais são suas prioridades e seus objetivos. Sabe a que e a quem serve. Lembrando, aqui, que os candidatos são apenas porta-vozes das candidaturas e seus interesses. São intermediários entre estes interesses e a cidade, entre estes interesses e o cidadão. Ocorre que, neste percurso, um elo não se estabelece ou se fragiliza: o que define as relações entre a cidade e cidadania.

Entretanto, por outro lado não há como não ficar feliz por ver as causas reais de problemas estruturais começarem, ainda que lentamente, a ganhar espaço nos discursos, nas retóricas e mesmo no proselitismo. O que possibilita, às vezes, entrever o que está oculto, sombreado pelas palavras de ordem e pela lista de obras. Antever o interesse, tanto quanto o atendimento.

Por exemplo, já não se fala só do congestionamento, já se fala na mobilidade. Já não se fala apenas do ônibus lotado, mas se fala das linhas mal desenhadas. Já não se fala apenas do preço da tarifa, mas já se esboça alguma consideração sobre o custo do sistema e até mesmo já se ameaça discutir quem paga a conta, a tarifa e o subsídio. Tarifa zero vem aí, a quem atende, a quem interessa?

O mesmo vale para outros setores como a habitação. Já surgem propostas para além do “vou dar casa”, preparando o terreno para a compreensão de que a política habitacional demanda qualidade e atende o beneficiário, mas interessa a toda a sociedade. Tenha ou não tenha onde morar.

Vale para a Cultura, com o reconhecimento da sua força econômica, política e social e sua capacidade de promover, ainda que incipientemente, a diversidade. Vale para a Educação, instrumento único e definitivo para construir, solidificar, espraiar e proteger a cidadania. Portanto, a cidade.

É positivo que aqui e acolá já se explicite e se admita, ainda que muito discretamente, que o atual estágio deste modelo de produção da cidade atende a interesses vários, mas não interessa a todos. E, hoje, doente, produz mais desigualdade do que se consegue suportar, colocando a si e a todos nós em risco.

Se há aspectos positivos, tão importantes, sempre existe um mas, um porém.

Ainda se insiste na superada e equivocada bipolaridade centro-periferia, na segurança desvinculada da qualidade dos equipamentos, na mobilidade sem tocar no modelo de produção e consumo, na crise ambiental sem focar no zoneamento, na qualidade de vida sem falar no no valor da terra e no extrativismo exacerbado. Se insiste, ainda, na manutenção da lista de obras desarticuladas e desejos desconexos como a tônica das campanhas. É o que se mostra, é o que se vende.

Educação, saneamento, habitação, desigualdade e todos os demais temas se mantém desarticulados entre si. A cidade em seu todo permanece ausente, a escala humana do território continua inexistente. Uso do solo e meio ambiente continuam ocultos e meramente mercantilizados.

Infelizmente, é necessário lembrar e destacar que esta não é uma característica, é uma necessidade das campanhas.

Sim, pois caso apresentem as propostas articuladas entre si correrão o risco de tornar explícitas suas motivações, suas opções, suas escolhas, seus afavores, seus desfavores. Seu projeto.

A pergunta é: estamos preparados para encará-los, estes projetos?

E este é o ponto. Cadê o projeto?

Sua cidade é dia ou é noite, é alegre ou triste, é pública ou privada, é coletiva ou individual, é colorida ou cinza, é leito ou calçada, é acolhedora ou segregadora, é grama ou asfalto, é magra e alta ou gorda e baixa, é diversa ou homogênea, é acessível e próxima ou distante e inacessível, é ativa, cri ativa, recre ativa ou apenas re ativa?

Feitas estas opções, como as realizará? Com quem? Para quem?

Aí sim a lista de obras e as palavras de ordem, os bordões e slogans passarão a ter algum sentido, alguma pertinência, consistência e alguma coerência.

No momento, para simplificar, se poderia começar com algumas respostas simples.

Tem história no seu futuro? Tem calçada no seu asfalto? Tem grama e banco na sua calçada? Tem calçada na sua cidade?

Tem gente?

Feliz 2029!

Valter Caldana

Posted in cotidiano | Leave a comment

Irreversível

Para pedagear um trecho de alguns poucos quilômetros da Raposo Tavares, o que será uma operação altamente lucrativa em função do volume de veículos que ali transitam diariamente, a proposta é destrui-lo.
Inclui destruir a mínima qualidade de vida de quem vive, trabalha ou simplesmente passa por ali desde Cotia até a avenida Pedroso de Moraes, com o estrago provocado pelo projeto avançando sobre o Alto de Pinheiros, a Vila Madalena e o bairro de Pinheiros.
Todo este esforço destruidor é composto por até 30km de desapropriação (15km de cada lado da rodovia), mais a desapropriação de aproximadamente 20.000m² para a abertura da bocs do túnel no trecho da rua Reação, a construção de mais um Túnel sob o rio e o alargamento de vias na outra boca (espero que sem desapropriacões) e o alargamento de vias em Pinheiros e vizinhança para dissipar a onda de estrago, espero que também sem desapropriações, caríssimas.
E todo este festival se deve, basicamente, porque para cobrar o pedágio é obrigatório oferecer rota alternativa similar gratuita. E, no trecho urbano da rodovia, ao lado (vide Castelo)
Esta operação, e este projeto, compõem uma tragédia de enormes proporções.
Chega a ser pior do que tragédias naturais e climáticas como um terremoto ou um tsunami, pois não é episódica. O estrago é permanente.
Como hoje somos uma sociedade que majoritariamente apoia a transferência do patrimônio público construído com o dinheiro e o trabalho de nossos antepassados para o privado, considera positiva a mercantilizacao do espaço coletivo e acha correto pagar por um serviço que visa lucro ao invés de pagar por um serviço que vise qualidade, faço uma sugestão.
Que apenas se altere a legislação e se permita pedagear o trecho em questão da Raposo sem que se cometa, se perpetre, este projeto destruidor que provocará estragos permanentes e irreversíveis na economia da cidade apenas para criar a rota alternativa grátis.
Que se assuma o desejo incontrolável pela cobrança do pedágio, aplacando o apetite voraz e a opção ideológica e se torne a operação eficiente, lucrativa e eficaz  sem os danos colaterais que estão projetados.
No atual perfil político-ideológico da sociedade refletido na composição da Assembleia  Legislativa, tenho certeza que um projeto de Lei desta natureza seria rapidamente aprovado. E a cobrança do pedágio começaria muito mais rapidamente, praticamente de imediato e pronto!
Indolor, rápido e com grande aporte tecnológico (pelo que entendi a cobrança vai ser automática, sem cabine).
Sim, a sugestão contém ironia. Mas nem tanta.
Segue…
As rotas alternativas existem e já são congestionadas, mas este não é o objeto do projeto. Elas são o os sistemas Francisco Morato/Eliseu/Régis e o sistema Corifeu/Autonomistas.
Com a vantagem de que com uma pequeníssima parte do que se vai gastar, podem receber umas migalhas de melhorias. Afinal, o asfalto eleitoral está aí para isso.
E com outra pequeníssima parte do que se vai gastar, daria para urbanizar o trecho paulistano da Raposo e instalar ali calçamento amigáveis e acessíveis nas laterais, um canteiro central decente e arborizado e uma via segregada para o transporte público de baixa e média capacidade.
Que aliás,  é o projeto que se propõe, há pelo menos duas décadas (ou mais), para de fato minorar as agruras da cidade nesta região.
Mas, para isso é necessário municipalizar o trecho. Ah… então aí não dá para pedagear! Volta ao zero!
Dá sim! Olha que interessante,  com um simples decreto municipal, mas pode até ser uma Lei, dá para São Paulo colocar o pedágio e ainda ser a primeira cidade a, finalmente, adotar o pedágio urbano em larga escala no Brasil.
Com a vantagem de, em seguida, implantá-lo também nas marginais, que já estão preparadas para isso desde a última grande reforma, mas faltou coragem à época.
Ou seja, (mais uma ironia ?), é puro avanço e inovação, a baixo custo e  sem destruição irreversível!
Posted in cotidiano | Leave a comment

Bisavôs e bisavós

Um aspecto que já nem me choca mais é a voracidade do grupo social hoje hegemônico na sociedade.

Desde 2016 o desmonte da CF é gritante e a velocidade da retomada do Brasil rural, dependente e importador preconizado pelo liberais é estonteante. Importador, sim, pois o projeto não é de um país exportador de commodities e produtos agrícolas sem valor agregado. É de um país importador… Importador de conhecimento, tecnologia, bens e produtos, serviços, etc… Exporta-se para ter dinheiro para importar.

No entanto, se isso já não me surpreende, posto que vitorioso foi nas urnas em 2018 e reafirmado agora em 2022, de modo inconteste, tem me chamado a atenção o corolário desta opção adotada pela parcela hegemônica de nossa sociedade.

Este corolário não está ligado apenas à dependência econômica ou à pauperização das nossas cidades, elevando o nível de miséria e desigualdade a níveis mais do que alarmantes, posto que alarmantes já são, tornando as cidades inabitáveis mesmo, e sobretudo, para aqueles que defendem este projeto.

Está ligado ao fato de que a explosão social inerente a este modelo é inexorável. Afinal, é bom lembrar que o projeto do fazendão funcionava bem quando o país tinha uma taxa de urbanização da ordem de 30 a 40% da população…

Vale lembrar que para a agricultura crescer no modelo adotado na década de 1960/1970, foi necessário mandar a população para as cidades. Crescimento urbano vertiginoso, numa velocidade muitas vezes superior à nossa capacidade de construir infraestrutura básica.

Deu nisso, nos absurdos déficits com os quais convivemos desde então…

Hoje estamos em 90% de taxa de urbanização da população. E vale lembrar que todo este contingente, inclusive nós, está excluído do projeto e do modelo econômico em implantação.

Não há a necessidade de serviços, por isso não há a necessidade de formação de qualidade. Não havendo a necessidade de formação de qualidade, não há a necessidade de educação de qualidade. E por aí vai… Isto se aplica a quase todas as áreas de conhecimento, não apenas à educação (que me fala mais de perto, por isso citei).

A opção está feita. Nada faço que não seja uma constatação. Não vai aqui, sequer, um juízo de valor.

O Brasil, por óbvio, não vive sem o agronegócio. E nada do que escrevi acima vai contra esta realidade. Aliás, como arquiteto e urbanista, nem me sinto muito à vontade para falar sobre o agro, me limito às questões ambientais.

O que procuro chamar atenção é que o problema não está lá no rural (ou sim, não é o assunto aqui). O problema está bem aqui. Na cidade, no século XXI, na porta de nossas casas. Hoje havia um ser humano defecando entre um carro e o meio fio, às 14h00, na rua Dona Veridiana.

A surpresa, afinal, qual é, então?

A surpresa é o estado de SP, que resolveu abrir mão das conquistas e vitórias que obtivemos desde 1932 ao rejeitar inclusive, a opção dita de centro representada pelo governador Rodrigo Garcia… Se não era centro, e sim centro direita, a esquerda tampouco o é, posto que centro esquerda.

O fato é que o estado, sempre conservador, optou não pelo caminho intermediário. Optou por uma das pontas. A ponta mais à direita que a própria direita. Optou pela adoção, aqui, pelo voto, do modelo carioca-federal de governo. Por carioca, não me refiro à origem de nascimento do candidato vitorioso no primeiro turno. Me refiro ao grupo que ele representa e às metodologias de governança que defende.

Ou seja, aquele estado que ao perder na porrada em 32 respondeu construindo a maior universidade da América Latina, o maior sistema de pesquisa, produção de conhecimento e formação de quadros, o maior parque industrial e de serviços do país, conquistando em pouco menos de 25 anos a hegemonia econômica (década de 1950) e pouco menos de trinta e cinco anos a hegemonia cultural (década de 1970/1980), se prepara para uma guinada.

Aquele mesmo estado que construiu a melhor e mais qualificada rede pública de assistência técnica agrícola do país, vide agronômicos de São Paulo, de Campinas, vide ESALQ, Botucatu, etc, etc… vide as DiRAs opta por abrir mão disto tudo.

A surpresa, então, afinal, encerrando, é que os bisnetos de nossa elite agrária parecem não conhecer sequer a história de suas famílias, de suas bisavós e seus bisavôs.

Valter Caldana

Posted in cotidiano | Leave a comment

Quem topa?


2016

Da série Propostas para o Prefeito
Eu não ia contar, mas vou contar…
Se bem observada, a reforma das marginais realizada pelo prefeito Serra, que custou mais de um bilhão de dólares fora as pontes “estaiadas” (o grande Prof. Figueiredo Ferraz deve rolar no túmulo…. pobre engenharia nacional) foi toda desenhada para ser pedagiada.
que ninguém tem coragem de cobrar pedágio urbano e que eu saiba só o Cândido tem coragem de defender em público.
Pois bem, já que o Prefeito Dória parece ter lido Maquiavel (apenas) – o mal se faz de uma única vez, o bem aos pouquinhos – sugiro então que ele aproveite sua onda de votos e libere a velocidade na pista esquerda (como falei em post recente), pedagiando-a. Resolve uma série de problemas simultaneamente e os que cria, enclausura na esquerda… (kkkk)
Pedagia-la-á* Prefeito?
…..
* Assim como há controvérsias quanto a eficácia do uso do instrumento (pedágio urbano), há controvérsias quanto ao modo de conjugar o verbo “pedagiar”.

2022

A ideia é, (do rio para a cidade), enfim, alargar a margem, fazer finalmente o parque urbano, fazer a maldita pista expressa com velocidade livre e assistência médica e socorro pagos pedagiada (nem tão caro), e urbanizar as pistas restantes, transformando-a em avenidas/bulevares (arborizados, etc…) na escala urbana e as pistas mais próximas da cidade para transportes públicos (inclui taxis) e a última, que é a primeira, colocar toda a mobilidade doce, suave, amigável e os cidadão (também chamamos de pedestres), em áreas com mobiliário, sombras, informações, serviços e etc. Aí vem a cidade edificada. Usos mistos plenos.
É tanta área para o mercado imobiliário construir que dá para uns 20 anos… dá ate para abrir o mercado e ser liberal de verdade (brincadeirinha…)
Já falamos, fizemos workshops, tfgs, artigos, textos, entrevistas….
Para se ter uma ideia, propusemos isto há exatos 25 anos, em1998.
Lá, quando fui consultor do concurso IAB das marginais já propunha a criação da agência (um authority) para cuidar e urbanizar a marginais.
É simples mesmo.
Entendeu, ou quer que desenhe?
Topas?
____________
Em tempo:
Este é um dos motivos pela minha profunda melancolia pela catástrofe que foi o desfecho da negociação do campo de marte e a privatização, como encaminhada, do complexo Anhembi. Nos condenam a sermos apenas o que somos, daí para menos.

Valter Caldana

Posted in cotidiano | Leave a comment

Sessenta

_ ah… Os 60‼️
_ os anos 60, quando ousamos e mudamos o mundo?
_ não, os 60 anos, quando paramos e achamos tudo enfadonho.
Valter Caldana

Posted in cotidiano | Leave a comment