20 anos no poder

Quando falamos em era PT, vale lembrar que projetos políticos de 20 anos são mais frequentes do que pensamos… E são legítimos.
Quando chegou ao poder central (pelas mãos do peemedebista Itamar Franco, o caipira que engoliu todo mundo) o PSDB também tinha um projeto político de 20 anos, que foi tragado e desmontado por dois ou três acontecimentos inesperados e processos mal avaliados.
No primeiro mandato se notou que a transição para um capitalismo contemporâneo era mais pesada e difícil do que o que se imaginava e que o grau de concessões políticas e éticas necessárias em nível federal eram absurdamente maiores e de mais baixo nível do que em São Paulo e no Paraná… E tinha a oposição do PT.
Gustavo Franco se enrolou na virada do primeiro para o segundo mandato, houve exageros na privatização, tanto de valores quanto de processos, a aprovação da reeleição escancarou o núcleo de poder para o PFL/DEM que ganhou um protagonismo inesperado, entre outros…
Sergião morreu, Zuza morreu, Dr. André morreu… Severo e Ulysses, nossos agentes no PMDB, morreram… Isto deu uma responsabilidade e uma liberdade de ação para lideranças ainda não completamente preparadas muito grande.
Lideranças tergiversaram, outras fraquejaram e outras simplesmente se deixaram cooptar. Sem falar na necessidade que um partido no poder tem (e o PT também sofre com isso) de abrir as portas (eu disse portas) para fisiológicos que não dá sequer para saber de onde brotaram…
Vale lembrar que no segundo mandato a disputa entre desenvolvimentistas (Serra) e conservadores (o resto) foi fratricida e que o sumiço do Presidente durante a campanha não foi um acaso…
Malan errou na dose do conservadorismo e da política recessiva e na reza por uma única cartilha, e que já fazia água.
Vale lembrar que o discurso de Serra era mais oposicionista com relação à política econômica daquele momento e trazia uma mensagem de desenvolvimento com soberania mais enfática e mais clara que a do Lula… Serra acabara de quebrar (único no mundo até então) patentes da poderosa indústria farmacêutica e se legitimara como candidato da situação contra um coro muito forte em torno de Roseana Sarney… cujo pai era um dos fiadores do governo FHC.
Enfim, esta longa digressão é só para lembrar que o problema não está em ter projetos de poder de 20 anos (e o número não é cabalístico, é estratégico, é uma geração mais um mandato).
O problema está na administração dos princípios, da ética e das concessões que se faz no período para manter o projeto vivo.
No caso do PSDB, se enrolou ao fim do oitavo ano…
No caso do PT, sobreviveu ao seven year itch mas para isso fez concessões demais e está difícil acreditar que ainda se lembrem do que foram fazer lá…
E nós, continuamos vítimas de um sistema político que é assim desde o pós guerra, se tornando cada vez mais inadministrável.
Enquanto isso nossas lideranças de um nível um pouco melhor, se escondem ou se perdem numa área de tangência existente entre o PT, o PSDB, o PMDB, o PSB e, por que não, o PSOL, se justificando de uma forma auto indulgente mas, na verdade, tocando projetos oriundos de interesses pessoais ou de grupos, nem sempre legítimos.
A HIstória vai cobrar caro deles, mas a conta, aqui e agora, quem paga é a gente.

Constituinte Já! Vamos preparar o próximo vintênio…
Valter Caldana

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