Considerações voláteis em um 13 de março (de 2016)

Considerando a fácil percepção de que a motivação das lideranças da maior parte dos movimentos pró impeachment não é o que propalam, ou seja o combate à corrupção e a possibilidade de organização do Estado com defesas fortes o suficiente para afastar esta doença do protagonismo de nossa vida pública,
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Considerando que a motivação real das lideranças é o afastamento do PT e a retomada do poder central, onde se concentra a riqueza neste país, nesta ordem (primeiro delenda PT, depois o butim),
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Considerando que o próprio PT não conseguiu se descolar das graves acusações de que é alvo, não conseguiu explicar e não conseguiu, sequer, mostrar que o problema é sistêmico e que mesmo no caso Petrobras ele sequer é o maior pecador em quantidade, ainda que o seja em qualidade, e por isso está caindo,
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Considerando que nenhum dos agentes políticos envolvidos nesta disputa apresentou, em um ano e meio, sequer um esboço, um draft, um rascunho, uma sugestão de caminho de superação da crise política em que eles mesmos nos meteram,
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Considerando que o caminho da mútua anulação não é caminho,
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Considerando que estes mesmos não apresentaram nem mesmo uma mísera análise de conjuntura nacional e internacional, propostas de governo ou ainda, e mais importante, a definição do que seja um governo de “salvação nacional”,
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Considerando que não está claro do que é mesmo que todos estes grupos estão querendo se salvar, visto que reivindicam coisas altamente díspares entre si tais como o fim da corrupção em um governo PSDB + PMDB + DEM, o fim do comuno-bolivarianismo associada à volta dos militares ao centro do poder, uma economia de livre mercado acompanhada de mais subsídios e benesses estatais para setores da economia que se identificam como patos,
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Considerando que todo governo de “salvação nacional” de que se tem notícia descambou celeremente para ditaduras ou estados de exceção, não salvaram nada e apenas colocaram à força um novo grupo hegemônico nas rédeas do aparelho de estado (uau),
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Considerando que governos de “salvação nacional” são, em geral, governos criminosos e que seus primeiros crimes se dão contra os mais fracos na cadeia alimentar do poder ou seja, nós, os cidadãos comuns que temos apenas opiniões, ideias e votos,
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Considerando que ditadura não é apenas colocar tanques na rua, fechar o Congresso e ter um general presidente, e que atentar contra a Democracia é, por exemplo, não respeitar o resultado das eleições ou as instâncias existentes para exercer o poder de posição ou de oposição,
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Considerando que golpes brancos são por definição a utilização das fragilidades do sistema legal e da própria Constituição para benefício de um grupo que se faz hegemônico num ou em mais de um dos poderes que a interpretam,
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Considerando que sequer passou pela cabeça das oposições assegurar uma democrática e estrondosa vitória nas eleições municipais deste ano, visto que sequer iniciaram um debate com a sociedade sobre seus temas pertinentes,
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Considerando que sequer passou pela cabeça das oposições que as vitórias eleitorais deste ano seriam o caminho natural e democrático de preparar sua vitória acachapante em 2018, nas eleições gerais, e não a via da derrubada de um presidente para “adiantar” eleições,
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Considerando que o Brasil é forte o suficiente para aguentar um, dois, três ou mesmo quatro anos de crise econômica desde que esta não seja artificialmente inflada pela crise política,
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Considerando que os verdadeiros projetos das lideranças dos vários grupos que se unem e irmanam nas manifestações não são claramente colocados para seus liderados,
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Considerando que este descolamento que se dá entre as lideranças políticas (carcomidas e corrompidas pelo sistema) e a sociedade (que continua sendo feita de boba), que nos corrói e martiriza há pelo menos dois séculos, está presente e dá o tom a toda esta mobilização das oposições pós o empate de outubro de 2014,

Ainda acho que o melhor a fazer seria:

a. já que querem transformar estas manifestações em espécie de plebiscito, que elas sejam semanais e temáticas nos próximos dois meses: uma manifestação contra a corrupção, outra contra o PT, outra contra o intervencionismo na economia, outra contra empresas brasileiras ousarem avançar no mercado externo, outra contra as subsídios governamentais… Notar que questões secundárias como educação, educação, saúde, transporte, mobilidade, acesso ao crédito e a bens e serviços, participação e representatividade, podemos deixar de lado…

Aí poderíamos ir às manifestações (que são sempre uma delícia) sabendo o que estaríamos fazendo lá. E, quem sabe, (tenho certeza) até nos encontraríamos em algumas delas…
b. poderíamos exigir a realização do plebiscito de ouro, único com poder para “enquadrar” nossas lideranças políticas apodrecidas, as inoperantes, as perplexas… vamos para uma Constituinte!

Seja como for, desejo ardentemente que o Brasil saiba encontrar um caminho de avanço, como vinha trilhando nos últimos 25 anos. Só não vejo como isso será possível com estas lideranças, com a manutenção da hipocrisia, com mentiras e perseguições.

Valter Caldana

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