Vai aqui uma resposta a uma ótima pergunta feita por um caro amigo, (mas e hoje, dá para votar no PT?) no contexto da discussão sobre o voto do senador Cristóvão Buarque e sua declaração:
Cristovam Buarque: “Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu.”
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Caro, como eu disse acima, ele já teve meu voto para presidente!
Mas, a questão é que passei mais de trinta anos dizendo que o PT não era de esquerda, que o PT era o PT… E que ele não era (nem nunca foi) meu farol. Não vou mudar agora, sou um burro velho.
Aliás, tenho pensado muito sobre isso, talvez seja esta a razão pela qual não odeio o PT. E (indulgente?) consigo ver (equivocadamente?) que dele está sendo cobrado um preço desproporcional pelos seus erros e, também, por seus acertos. Com isso nós Brasil estamos retrocedendo gravemente e pagando a conta.
Me recuso a entrar na discussão de se é golpe ou se não é golpe, é uma discussão diversionista, não é o ponto central. Para mim a simples ruptura do calendário eleitoral configura prova de falta de amadurecimento de nosso sistema político, assim como a atuação irresponsável das oposições, que preferiram o caminho da ruptura ao caminho da boa política.
Temos hoje no Brasil todos os mecanismos parlamentares e judiciais para contornar um governo ruim ou corrupto. Basta vontade política. Mas, o que fez a oposição? As pautas bombas, a agenda de confronto e desestabilização. Não conseguiremos citar uma única proposta construtiva ou mitigadora da crise. Ao contrário, todos se esmeraram em mirar bem para jogar a gasolina no centro da fogueira, como quem tenta apagá-la.
Mas, é claro que nós concordamos com o fato de que o PT mudou muito. Apodreceu como os demais partidos brasileiros (mais rápido, inclusive) e paga, além dos outros, o preço da sua própria soberba. Nossos amigos petistas de boa cepa identificaram e reconhecem isto já há algum tempo. Ou não foi soberba o Zé Dirceu deixar o Jefferson quatro horas esperando na sua ante-sala? Ou não foi soberba o Lula não ser candidato a senador depois que saiu da presidência? Ou ainda não ter dado a cabeça de chapa ao Temer na última eleição pra o governo do estado? E vai por aí afora…
Mas o me impressiona mais é que mesmo deposto o PT continue sendo o centro da análise de tantos… e como tal, levando tantos a apoiar, nas ruas e no congresso, este governo.
O que sei é que o PT está fora, que o que a direita tem de pior está no poder destruindo uma agenda que não era apenas do PT, era nossa, e o que se auto-intitula esquerda caviar, europeia, democrática, consciente, esclarecida, histórica, elegante, sei lá mais o que, está indo a reboque mendigando um espacinho na canoa, sem nenhuma proposta para o Brasil.
Em resumo: já que a “minha” Constituinte não vem, estou esperando 2022…
Valter Caldana