A vitória de Macron permite considerar o que disse aqui há algum tempo. Os resultados eleitorais dos últimos 12 ou 24 meses não indicam, necessariamente, um avanço da direita no mundo, como tem sido rapidamente lido aqui e acolá.
Muito menos podem ser entendidos, óbvio, como a reafirmação de princípios clássicos da esquerda ortodoxa. Nem mesmo da heterodoxa… O fato é que o jogo está empatado. Ainda que esteja um claro 1×1 “prá eles” sejam eles quem forem.
Mas, há uma terceira força, esta sim a que mais cresceu nos últimos tempos: a abstenção, somada aos brancos e nulos. É agora um jogo de três, não mais de dois… Esta é a grande novidade, não uma propalada vitória da direita.
O que se tem são, na verdade, resultados eleitorais que mostram claramente o esgotamento do sistema de representação e do modelo de estruturação político-partidária vigente nas grandes democracias ocidentais. Daí o fato de teem todas sido eleições tão duras, com resultados tão apertados em primeiro turno.
Simplificando: o descolamento dos representantes de seus representados e da vida real se tornou insustentável. O que se nota, de fato, é uma busca desesperada do eleitorado por soluções alternativas, posturas alternativas, discursos alternativos, propostas alternativas. Que voltem a responder às suas questões reais, cotidianas, práticas
Por certo, depois de abertas as urnas, o que se tem é bastante claro e bastante lógico, quase esperado: os truculentos americanos votam Trump, mas Hilary quase leva e Obama não sai derrotado; os históricos italianos dão um calma lá bambino no Renzi e em sua brilhante proposta de “fechar” o Senado Romano; os isolados (posto que uma ísola) ingleses votam o Brexit e… se isolam; os carinhosos brutalistas alemães vão dando oxigênio controlado para a democrata Merkel e os Russos vão se virando com seu Czar do coração…
Aos franceses, portanto, nada mais natural que votar num jovem meio subversivo, meio conservador, meio agitadinho, meio mal humor. Mas que, na hora H, hoje, deram um sonoro e histórico 6 a 3 na xenofobia suicida…
Pois bem, estereótipos e pré-conceitos à parte, brincadeira feita, o fato é que o recado está dado pelos eleitores da primeira classe da Democracia Ocidental. Como está fica, mas não dá mais.
Para mim resta uma pergunta: se está claro que o modelo não se sustenta mais, será que a Democracia representativa burguesa, que o inspirou, é ainda necessária? É ainda viável?
Este século XXI, se houver, vai ser mesmo bem interessante…
Valter Caldana