Saskia Sassen, uma das mais brilhantes pensadoras sobre as cidades e sobre urbanismo em atuação fez uma conferência na Fundação Tide Setúbal a que não estive presente, uma pena, mas que podemos assistir no link ao lado. (assista a conferência)
Uma das coisa que mais aprecio nas leituras e nas palestras de Saskia Sassen é a clareza. E das coisas que me deixa feliz é perceber o quanto a obra de Milton Santos, nosso grande mestre, está presente no seu pensamento.
Se ela leu não sei. Mas intuiu e avançou.*
Hoje tenho claro que a solução, mais, a sobrevivência de todo o sistema de controle do planeta pela humanidade passa por esta encontrar seu próprio ponto de equilíbrio interno, eliminando as absurdas diferenças entre as pessoas e o acesso aos benefícios do próprio sistema, para apenas depois ela conseguir encontrar o seu equilíbrio com o meio. Pode ser tarde? Sim, pode ser tarde. Mas é o risco da existência.
Como um descentralizador e municipalista** das antigas, acredito que isto só se alcançará com descentralização do poder e com a valorização material e não apenas simbólica dos aspectos locais de todo o sistema.
É preciso dotar as cidades e dentro delas as comunidades – definidas por afinidades territoriais ou por critérios de interesses solidários e complementares – de capacidade plena de decisão, gestão e produção. De consumo, importação e exportação.
No nível local as redes produtivas e solidárias se fundem e se dão de modo mais rápido, mais simples e mais ágeis. Mas, acima de tudo, dada a escala, se dão de forma mais humana, posto que estão na escala humana. Assim, reconhecendo seu valor e sua importância estratégica e vital para o sistema no seu todo, o consolida e fortifica. A imagem melhor seria de uma corrente cujos elos são feitos de cordas, espessas cordas, e não de ferro ou aço.
No entanto, voltando a Saskia Sassen, me preocupa um certo tom isolacionista que o seu pensamento tem trazido. Não adianta, de nada adianta, a valorização das questões locais se as mesmas não tiverem sempre uma dimensão universal.
Não se trata, a meu ver, de formar pessoas para trabalhar e resolver as questões locais. Se trata de formar pessoas, empresas, serviços, capacitada a resolver questões locais, com recursos locais, mas conhecimento universal.
É a capacitação local com conhecimento, reconhecimento e respeito pela rede, pela diversidade, em todos os sentidos, e com pleno usufruto da mobilidade, em todos os meios, que esta propicia que fará a nova configuração e construirá a nova eficiência do sistema. Do contrário, retornamos às cavernas, simbólicas cavernas.
Mas aí, na compreensão da universalidade como força motriz da cultura local, acho que entra mais Graciliano Ramos que Milton Santos.