O rato que ruge

O RATO QUE RUGE
modelos de privatização.

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Para se ver como são as coisas.
Ao ler esta notícia (leia aqui) não deixo de pensar que sempre que entro em discussões sobre a pressa e o modelo de privatização que se pretendeu implantar em São Paulo defendendo que o mesmo está completamente equivocado alguns interlocutores apelam para uma posição binária dizendo: ah, você é contra a privatização por princípio.

Como já tenho idade para não entrar em algumas discussões infrutíferas, deixo estar. Sequer argumento que um ano se passou e até agora… nada.

Mas ao ver esta notícia não pude deixar de lembrar de dois ‘caras’ que foram meus clientes, depois viraram meus amigos e com quem estabeleci uma relação de profundo respeito e admiração por sua generosidade, por me tratarem como um filho, por seu conhecimento técnico, sua capacidade empreendedora e seu espírito público.

Chico Galvão, aventureiro, empreendedor, dono do Simba Safari, e Ladislao Deutsch, seu amigo, igualmente aventureiro, péssimo velejador e braço técnico e consciência crítica do empreendimento.

Para quem não sabe, o Simba sempre foi privado, com dono pessoa física, uma empresa lucrativa e ativa. A área era cedida pelo Zoo em concessão assim como parte dos animais fazia parte do acervo do próprio Zoo.

O Simba, como o Kruger Park (infinitamente maior), era um parque onde o condicionamento de animais não era feito com dor ou química. Era um lugar onde se estudava, onde excursões de escolas públicas não pagavam ingresso, onde os animais eram exibidos em recintos amplos, que os velhinhos aqui da lista podem se lembrar, eram visitados em passeios com contato direto…

Juntos, com a ajuda dos ‘rangers’, dos tratadores, dos jardineiros, Chico e Ladis plantaram em 20 anos aproximadamente 100.000 árvores na área do Simba, reconstituindo mata, flora e fauna e preservando nascentes (inclusive uma que, folcloricamente, se dizia ser do riacho do Ypiranga).

Quando acabou o prazo de concessão a Lei não permitiu a renovação. Era o fim do Simba Safari…

Numa tentativa de salvar ao menos o legado e a estrutura, uma nova concorrência internacional foi iniciada para que se fizesse uma nova concessão. Junto com uma equipe do Zoo Participei da elaboração do edital.

Fizemos no escritório um plano diretor de ocupação e desenvolvimento do Parque do Estado, modelos de concessão, modelos de negócio, a sofisticação e a complexidade dos derivativos já tomando conta…

Taxas de retorno obviamente inatingíveis, contas que jamais fechariam, claro. Enfim…. modelos, práticas, espírito público, onde foram? O leão comeu… e seus filhos e seus netos ficaram sem o Simba, público ou privado.

Valter Caldana

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