Sim, ele é um mito!

Há uma coisa na campanha de Bolsonaro que para mim é irretorquível: ele é uma figura mitológica, digno da mitologia grega. Ele é o ser que consegue fazer com que alguns, muitos, vejam nele aquilo que querem ver.

Por exemplo: tenho amigos que vêem nele um fascista.

Conheço vários fascistas, estudei o assunto um pouquinho e tive, e tenho, alguns fascistas na família, convivo com eles há mais de meio século e, por favor, não confundam as coisas. Ele não é fascista. É um populista, apenas mais um candidato a gerente do circo máximo.
Um populista que se serve da violência em todos os sentidos para se comunicar com os sentimentos mais tenebrosos da sociedade. Como populista, ele é absolutamente imprevisível. Este é o problema. Não se trata de uma aventura, se trata de um desventura.

Mas, tenho amigos que votam por que vêem nele o combate à corrupção…

Não me consta que ele seja corrupto, mas não há nada entre os que o cercam e mesmo nas suas ações pregressas e pretéritas que abone esta expectativa. Desde suspeitas de enriquecimento ilícito até envolvimento na Lava-Jato e outras operações da PF, ali tem de um tudo. Fora o fato de que ele próprio é deputado líder da bancada de Eduardo Cunha.

Outros amigos estão votando nele por que vêem nele uma atuação firme na questão da segurança.

Em trinta anos de vida pública sua atuação na área foi insignificante ou nula, não apresentando uma única proposta estruturada, nem mesmo para que dela se discordasse. Votou ou discursou pela liberação ampla do porte de armas mas não creio que chegamos ao ponto de achar que isto seja uma política pública de combate ao crime, sobretudo o organizado.
Além do mais, a segurança pública cotidiana, esta que nos coloca como prisioneiros em nossas próprias casas, é atribuição dos estados, podendo muito pouco o presidente da república.

Há os que votarão nele por verem um paladino contra o PT.

Neste caso, todas as não poucas, na verdade muitas vezes que ele votou com o PT na Câmara e todo o período em que ele foi da base devem ser desconsiderados. Ou não? No país de Eduardo Cunha se ele votou mas não acreditava, votou por que?
Ou então estão votando nele pelo que ele diz que tem vontade de fazer com petistas (e com FHC também que, todos sabemos, sempre foi meio petista). É sério isso?

Mas aí vem a joia da coroa: vêem nele um liberal e crêem que vai dar uma guinada liberalizante no Estado, fazendo as reformas necessárias com estas características.

Ora, além de ter votado contra boa parte das medidas e Leis de caráter liberalizante ao longo de sua carreira ele tem formação militar, de forte cunho corporativo, nacionalista e intervencionista. E ele é certamente, como deixou claro na Globo News, daqueles que confundem liberal econômico com liberal no comportamento e aí vai… Mas, não é só isso.

Os que o rodeiam, que poderiam dar o tom, são mais privatistas de rapina que liberais consequentes. Sem contar que, neste afã privatista e de assalto ao Estado, incluem inclusive questões estruturais que devem bater de frente com a formação de seu comandante, a começar da própria reforma da previdência. E por aí vai…

Enfim, é um mito.

Valter Caldana

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