Apesar da discussão no Brasil ser, de modo geral, tosca e binária, normalmente sem foco, existe uma discussão basilar, tosca e binária que não é feita. Nem implicitamente, muito menos explicitamente, que é o poder de compra da riqueza nacional. Não a individual, mas a coletiva.¹
Explico. Nunca discutimos, sequer superficialmente, se somos uma sociedade incapaz de gerar e produzir riqueza suficiente para comprar nosso bem estar, ou se o preço que nos cobram pelo nosso bem estar é que é alto demais, colocando parcelas significativas da sociedade e da população fora da encomenda.
Diagnosticar e definir isso é o início de qualquer posicionamento ideológico e político, assim como é elementar para o projeto de qualquer política pública consequente e efetiva.
Por exemplo, em geral, salvo em pequenos hiatos à direita e à esquerda (GV, JK, Jango, Geisel, Lula) , nossos governantes tentam nos convencer que somos uma sociedade pobre, paupérrima, que não consegue arcar com o custo do bem estar coletivo.
Vide agora, cortes na previdência, nos direitos trabalhistas, na educação, na pesquisa e desenvolvimento, na saúde, na infra-estrutura… A alegação, aceita pela sociedade, é a de que não há como pagar. Então corta.
Mas, e se o problema for o preço que estão nos cobrando, a conta que estão enviando, e não a nossa capacidade de pagar? E se o problema não for na ida, for na vinda…
Isto, será, não daria uma dica sobre o que deveria estar sendo discutido nas reformas profundas que precisamos e nas prioridades que assumimos, ao invés deste caminhar solene, silencioso e circunspecto, quase bovino, rumo aos cortes orçamentários?
Valter Caldana