Prefeitura cogita fazer
habitação no Paissandu.
A prefeitura está cogitando construir um edifício residencial no terreno onde ficava o edifício Wilton Paes de Almeida, que um trágico incêndio derrubou há algum tempo, inclusive provocando mortes.
Sobre esta ideia vou repetir o que eu disse a uma repórter na ocasião da tragédia sobre o futuro do terreno.
Ali deveria ser feito um concurso internacional para a construção de uma praça memorial que marcasse o evento e, acima de tudo, marcasse uma refundação das políticas públicas municipais com relação à questão da habitação na cidade de São Paulo. Um exemplo é a praça construída em frente ao aeroporto de Congonhas.
Se na praça memorial do centro houvesse alguma edificação, que fosse singela e servisse para organizar um programa simbólico como algum tipo de abrigo para atividades coletivas em geral marginalizadas, que fosse sem portas e sem controles rígidos de acesso e uso.
Construir ali um edifício, habitacional que seja, é a solução mais óbvia e, infelizmente, a mais naturalizadora da tragédia posto que condenando-a ao esquecimento e portanto à insignificância. Vale destacar que a mesma só é realmente lembrada, ainda, pela presença do terreno vazio e seus tapumes.
Além disso, a meu ver, um edifício residencial ali criará três outros problemas correlatos.
Por um lado a demora… Haverá problemas de verba, orçamento, licitação, etc e tal, pela monta dos valores envolvidos na construção de um edifício novinho em terreno tão valioso. Acabará caindo nos caminhos e descaminhos habituais de nossa máquina administrativa. E o esquecimento e a cesta sessão acabarão sendo o destino do esforço, da memória e do projeto.
Por outro lado, talvez menos candente, acabará sendo um desmerecimento ao belíssimo edifício que ali existia e sua importância na história da arquitetura paulistana, pois soará sempre como uma contrafação. Vide o “ground zero” (que expusemos na nonaBia) e a nova torre em Manhattan.
E, por fim, bem forte em termos simbólicos, seria uma espécie de desrespeito à memória da luta por moradia, na medida em que seria impossível se chegar à uma conclusão justa e plenamente aceitável sobre quais critérios utilizar para indicar quais seriam as famílias a ocupar as unidades.
Mas, como não vivemos em tempos salomônicos, se alguém conseguir fazer ali um bom predinho já sairemos todos ganhando.
Valter Caldana