VACA MIA

Há tempos ouço muita gente comentando, com certo grau de estupefação, que parcela significativa da população de áreas das cidades dominadas pelo crime defendem os criminosos.
Ao lado dos mecanismos de facilitação das transações e aumento da velocidade de circulação da moeda, um dos fatores da equação clássica da inflação, (de depósito à vista e cheque para DOC, de DOC para TED e de TED para PIX) e da facilitação dos registros e declarações (lembrando que nossa declaração do IR é um exemplo notável de qualidade), passando pelo famoso “CPF na nota?”, o controle das autoridades fiscais sobre nós vem aumentando significativamente há décadas. E o cruzamento de dados também.
A curva de ascensão teve um ponto de inflexão com Zélia/Collor, outro grande com a CPMF do Jatene e uma guinada forte no sentido vertical no governo FHC com o aumento vertiginoso da eficiência da receita, fundamental para o sucesso do plano Real. Sem falar do plano salva banco, o PROER, que exigiu em contrapartida depósitos maiores e declarações mais amplas e específicas.
Este episódio do Pix, que de 2.000 reais de patamar de controle possível iria passar a 5.000 reais, ou seja, tornaria menos invasivo o controle sobre a economia miúda, o dia a dia (quem trabalha em obra sabe o quanto esta movimentação miúda é necessária) deveria ter provocado uma reação contrária.
A reação de fato, e a origem da reação, mais uma vez demonstram o que e quem a sociedade apoia e protege e tem como modelo e aspiração. E registra claramente que a formalização e a legalização das atividades econômicas não é opção.
Enfim, este foi mais um exemplo claro de que o fato nunca interessou e nunca interessa. E que já vivemos no mundo onde o gato muge e a vaca mia.

Valter Caldana

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