SOBRE VIVER E APRENDER

A voracidade das empresas que vendem cursos de graduação EaD é tamanha que claramente deve estar havendo um “dumping” na área.
O que me espanta não é isso.
O que me espanta é a falta de reação das instituições de ensino consolidadas, que sabem ser esta uma onda passageira, algo como uma nuvem de gafanhotos, que vai (já está) desestruturando todo o setor.
É uma onda muito parecida, na forma, com aquela que houve há uns bons vinte anos, dos cursos ‘superiores’ ultra especializados e de curta duração. Lembram? Curso superior de preenchimento de cadastro de hotel, (contém ironia) e assim por diante.
A onda passou, não se fala mais nestes cursos (alguns devem ainda existir) e quem apostou tudo na modalidade perdeu. E perdeu muito.
O mesmo vai acontecer com o EaD como tem sido implantado.
É vergonhosa a voracidade e a superficialidade com que tem sido feito, inclusive com a aquiescência das autoridades responsáveis pelo assunto.
A implantação de uma Política Nacional de Ensino à Distância, como tenho observado nos últimos meses, é possivelmente a única coisa que sobreviveu aos governos FHC, Lula, Dilma, temer e o atual.
No entanto, a atual onda de sua implantação no ensino superior está sendo mais do que preocupante, está sendo potencialmente nociva, ao menos do ponto de vista das práticas profissionais.
O que, num país como o Brasil, poderia ser um instrumento de ampliação da base formativa, da base tecnológica, de expansão do conhecimento, de inclusão e de melhoria da qualidade de vida da sociedade está sendo deturpado de tal forma que, temo, além de quebrar algumas instituições bem sérias no caminho, criará obstáculos até mesmo para o uso futuro da ferramenta.
Quando a nuvem passar e sobrarem apenas ossos no deserto e talos inférteis e insepultos na plantação, a reorganização do setor, inclusive econômica, terá um custo elevadíssimo. Pouquíssimas instituições sobreviverão.
A seleção natural capitalista não dará conta de tudo, pois nem mesmo ela está conseguindo refrear e disciplinar este movimento agressivo no mercado. Não é a primeira vez que acontece, mas, neste caso, corre o risco de ser a penúltima. Ou a última.
Quem (sobre)viver, verá. E aprenderá.

Valter Caldana

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