Na juventude uma coisa me intrigava… as filas para comprar gasolina na véspera do aumento (semanal). Nunca entendi a lógica daquela fila, apesar de tê-la enfrentado algumas poucas vezes…
Pensava eu: gasolina é volátil, o uso é intenso, o tanque é pequeno, logo a diferença de preço, salvo eu ter em casa, no quintal, uns toneis do tamanho daqueles da Petrobras que se vê da Castelo Branco, não vale a pena… Mas, como a gasolina aumentava praticamente toda semana, eu avançava, se o sujeito usar um tanque por dia, etc… etc… Tem também esta coisa do brasileiro e da brasileira se sentirem bem por terem tirado proveito de alguém ou de uma situação, por ter levado uma vantagem que só ele ou ela (e as torcidas do galo, do flamengo e do coríntia juntas) ‘sabia’ e, assim, eu ficava justificando a tolice coletiva. Diversamente das filas para comprar comida, dos trenzinhos de carrinhos no supermercado no dia do pagamento dos salários, na era dos hipermercados em plena zonas urbanas centrais, que eu entendia e até justificava – pois era possível estocar os produtos até um ano ou mais (latas de ervilha duram muitos anos, já notaram?) as filas para a gasolina eu não entendia. Fazer estoque de coisa volátil não pode valer a pena. Eis que, passados quarenta anos, estou eu aqui, de novo, vendo as mesmas filas e com a mesma dúvida. Só o que mudou é que antigamente eu tinha esta dúvida indo dormir. Agora, no mesmo horário do dia, a tenho acordando… Bom dia!
Valter Caldana