Este país vai muito mal. Não me diga, sério?

Estive pensando…
Estou realmente cansado do catastrofismo e do ufanismo como tática e estratégia eleitoral. (Acho que eu e a torcida do flamengo…)
Qualquer um sabe que o Brasil não está tão bom quanto nos quer fazer crer a propaganda da situação (até por que o mundo não está nada bem…) e está longe, muito longe de estar tão mal quanto insiste a oposição há mais de dois anos (o tempo em que d…iariamente se diz que a inflação vai explodir, que a copa será um fracasso, etc. e tal).
Mas a questão é a seguinte: Quem tem 40 e tantos, 50 e uns, têm a obrigação de explicar aos mais jovens o que é um país que vai mal. Nós conhecemos isso, nós vivemos isso.

Outro dia, conversando com alguns amigos de seus 20 e poucos, 20 e muitos, todos filhos de nossa hoje tão falada classe média (ou seja, nós), eu dizia…
“Você se imagina indo num sábado a um show de umas bandinhas de garagem de conhecidos seus no pátio do seu colégio e isso ser considerado um grande ato político e uma afronta à estabilidade política e econômica de seu país?”
“Você se imagina não podendo ter aulas com um professor por que ele está preso?”
“Você se imagina vivendo com uma inflação de 40, 50% ao mês (nem vou contar que chegou a 85, vão achar que esclerosei, pensei comigo) e tendo que ligar todo dia no banco para aplicar e desaplicar dinheiro? Dinheiro de troco, bem entendido, não uma grande soma de investimento.”
“Você se imagina trabalhando cotidianamente com três moedas, a oficial, o dólar (dividido em mais três: paralelo, oficial e turismo) e um referencial móvel qualquer que poderia mudar de nome – otn, btn, ortn, urv, etc…”
“Você se imagina morando num país onde a tablita não é a mulher do tablito da Kibon?”
“Você se imagina indo fazer várias viagens com o carro da sua mãe e o seu pai no outro carro, numa sexta-feira à noite, para pegar uma fila enorme apenas para encher o tanque de gasolina e, os mais espertos, descarregar o mesmo em casa num tambor de plástico e voltar para a fila?”
“Você se imagina indo ao supermercado fazendo uma compra que poderia durar mais de três horas, gastando praticamente todo o seu salário, para estocar comida em casa?”
“Você se imagina projetando uma casa onde o maior cômodo era uma coisa chamada despensa, maior que os quartos, onde as famílias guardavam seu mais precioso bem, a comida do mês?”
“Você se imagina formado e sem NENHUMA perspectiva de emprego, de trabalho (não disse trabalho interessante), estudo, bolsa para o exterior, ou coisa parecida?”
“Você se imagina acompanhando a trajetória de pessoas maduras e extremamente competentes procurando emprego por mais de um ano?”
“Você se imagina procurando emprego por mais de uma ano, um ano e meio, quem sabe dois?”
“Você se imagina indo embora do país por não ter, definitivamente, o que fazer aqui?”
Pois é… Imagine (ou relembre)
Isto é um país que vai mal.

Valter Caldana

This entry was posted in cotidiano and tagged , , , , , . Bookmark the permalink.