Marginais Pinheiros e Tietê: a cara de São Paulo (?)

Hoje vi no facebook uma foto do Arnaldo Antunes segurando um cartazete pedindo árvores nas marginais. Semana passada um artista fez uma bela intervenção de um homem ameaçando nadar (!) no rio… A Associaçào Águas Claras do Rio Pinheiros fazendo cotidianamente seu belo trabalho.

trampolim

Mais uma vez, as atenções se voltam para as marginais Pinheiros e Tietê. Não é para menos. A ligação de nossa cidade com as águas é plena. Das águas nós nascemos, por ela nós crescemos. Não me canso de dizer que a esquina mais importante da História do Brasil é o cruzamento do Tamanduateí com o Tietê. Afinal, foi a partir dela que os jesuítas, bandeirantes, entrantes e toda sorte de aventureiros expandiram nosso território.

Mais contemporaneamente, nas marginais de São Paulo somam-se o colapso do trânsito e o colapso das águas. Ou seja, um verdadeiro monumento à baixa qualidade técnica das decisões políticas de nossos governos e ao baixo nível de exigência da sociedade por esta mesma qualidade. Sim, pois um não vive sem o outro, na verdade um alimenta o outro.

No caso das marginais de São Paulo isto é flagrante, de fato monumental, sobretudo quando lembramos que há não mais do que cinco anos a mesma foi objeto de uma obra cujo investimento vai para a casa dos R$3.000.000.000,00 (três bilhões de Reais, equivalentes, por exemplo, a 15% de todo o investimento direto que o Brasil fez na Copa).

Três bilhões de reais torrados (ou mergulhados?) numa obra baseada em conceitos viários anacrônicos, ultrapassados, rodoviaristas ao extremo, cujo resultado nos legou uma via expressa confusa, congestionada, mal sinalizada, feia, agressiva para com os rios e o meio ambiente em geral, sem nenhum equipamento urbano interessante (já que ela deveria ser uma via expressa), sem nenhum tipo de transporte público sequer previsto (hidrovia, bicicleta, tram, pedestres… nada!) e sem nenhum tipo de espaço público utilizável pela cidadania, sequer do ponto de vista visual.

E, no entanto, há quase vinte anos atrás o IAB-SP organizou um Concurso Nacional de intervenção nas margens do Tietê e Pinheiros, do qual fui consultor junto com Rosa Kliass e Luciano Fiaschi.

Os projetos apresentados foram de modo geral brilhantes e entre os vencedores tínhamos dois particularmente interessantes – alem do vencedor – que propunham hiper vegetação e repovoamento de fauna e flora: os projetos das equipes do Chico Spadoni (floresta urbana) e da Maria Elena Merege (projeto pomar).

Ah! e com o detalhe de que todos admitiam a permanência das marginais.

Bem, estou contando isso, em dia de eleição, só para lembrar que se tivesse sido iniciada na época, hoje a floresta urbana que precisamos ali estaria pronta.

E para lembrar que, quando a sociedade souber a quantidade de projetos bons que existem, para problemas que nos agridem cotidianamente, fruto de concursos, trabalhos e pesquisas universitárias e do excelente trabalho do corpo técnico dos órgãos públicos, o inconformismo por ainda vivermos com diversos problemas que poderiam estar solucionados / amenizados vai aumentar ainda mais.

E, quem sabe, ela passe a cobrar mais, exigir mais qualidade das intervenções, obras e, sobretudo, projetos que ela mesma (nós!) paga e sofre.

Valter Caldana

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