Verdades – Dá para anistiar quem anistiou?

Desde quarta-feira passada, pós entrega do excelente relatório da Comissão Nacional da Verdade, tenho ouvido muita conversa sobre isonomia.
O discurso é mais ou menos este: “então vamos punir os dois lados, e fotos do jovem Mário Kozel Filho estampadas para lá e para cá…”

foto domínio público

Tenho respeito e pesar pelo jovem morto, sua família e seus amigos, como o tenho por todos os que tombaram lutando o bom combate.
Respeito ainda maior por aqueles que sofreram ou morreram sem sequer ter um envolvimento direto com o conflito.

Mas quero lembrar aos amigos duas coisas:

A primeira, um pouco mais complexa, que exige uma certa capacidade de abstração, é o fato de que num conflito em que o Estado esteja envolvido, seja contra um inimigo político, seja contra um inimigo comum (criminoso), cabe a este, que atua em nosso nome, manter a dignidade e os limites de Humanidade, Civilidade e Legalidade na sua atuação, independentemente de qualquer outro fator.
É por isso que existem coisas como a convenção de Genebra e tribunais como o de Nuremberg…
É por isso que existe, inclusive, a chamada Honra Militar. Práticas genocidas são definidas por critérios éticos e não por critérios numéricos.
Em outras palavras, não há FlaFlu quando de um lado está o Estado!

A segunfoto de domínio públicoda coisa, bem mais simples, bem mais FLAFLU é a seguinte: no Brasil, do lado da resistência, que eu saiba e conheça, TODOS foram punidos ANTES da Anistia.
Foram presos, torturados, banidos, exilados, mortos… não nesta ordem e não uma coisa de cada vez. Alguns passaram por todos estes estágios, como meu amigo Frei Tito.

Já do lado dos agentes do Estado, que eu saiba, NENHUM foi punido.
Então Ok… queremos isonomia? É isso?

E, para terminar: anistia, o vitorioso concede ao derrotado e não a si mesmo…
Talvez fosse um gesto interessante, quem sabe, a Dilma anistiar os que anistiaram.

Valter Caldana

This entry was posted in cotidiano and tagged , , , . Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta