Problemas? Não, soluções!

Uma notinha sobre o projeto de reforma do Anhangabaú, o novo Concurso BairroNovo, o Parque Augusta e o movimento pró Minhocão…
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No Anhangabaú nós temos um problema de uso, que é conjuntural, enquanto no Minhocão nós temos um problema de existência, que é estrutural.
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Problema de uso, como o que temos no Anhangabau, não se resolve com alteração estrutural, como a demolição do existente para colocar outra coisa “mais adequada” no lugar. Problema de USO se resolve com alterações de USO, estímulos, complementações programáticas e políticas públicas adequadas. Ou seja, poucas obras e muito trabalho.
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Problema estrutural é aquele que persiste, que permanece, qualquer que seja o uso. É o que acontece com o Minhocão. Mudar seu uso nada altera na configuração ou na qualidade de vida da cidade. Não adiantam alterações de uso, estímulos, investimentos a fundo perdido ou políticas públicas, floreiras ou barraquinhas. Como dizem os proponentes do parque minhocão, O PARQUE JÁ EXISTE!
Esta é a maior prova de que ele não ajuda nem resolve nada, não altera a cidade, é perfunctório. Não há mágica.
Ou seja, problema ESTRUTURAL se resolve com ações ESTRUTURAIS.
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Assim sendo, fica aqui uma proposta…
Porque não juntar toda a energia criativa e cidadã mobilizada em prol da manutenção do Minhocão e sua área de lazer com parte dos milhões (públicos ou do Itau, tanto faz) que serão gastos na reforma (estrutural) do Anhangabau para resolver dois problemas ao mesmo tempo?
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Podemos, de uma lado, conquistar uma solução de uso para o Anhangabau – transformá-lo imediatamente em parque, com cara de parque, com cheiro de parque, com programa, espaços e equipamentos de parque, mobilizando as pessoas, a sociedade, os artistas, os grupos mais ligados às questões urbanas para ocupá-lo já, durante toda a semana e muito, muito, nos finais de semana.
Tudo isto de uma forma bem barata, de baixíssimo custo, como o que tem sido proposto para o Minhocão. Podemos nos dar ao luxo, até, de chamar a nossa mestre Rosa Kliass para ajudar. Ou a equipe da Secretaria da Cultura, que tem belos projetos para o local. Ou ambos. Podemos fazer uma oficina pública de desenho coletivo, onde as pessoas poderiam passar o dia desenhando e montando o parque de seus sonhos. *

Por outro lado, podemos usar a parte do dinheiro que vai sobrar da operação delenda Anhangabau, que vai ser grande, e toda esta energia transformandi da Prefeitura e dos que apoiam a manutenção do Minhocão travestido de playground para dar uma solução estrutural para um problema estrutural, que é a própria presença do minhocão na cidade. Vamos demoli-lo.
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Governar é abrir estradas, mas é também abrir os olhos!

Minhocão, Parque Augusta, Roosevelt, Anhangabau e Barra Funda são partes de um mesmo (problema?)… ooops, não!
São Partes de uma mesma solução, que é a CIDADE DO SÉCULO XXI!!

De nada adiantam, neste século, soluções desarticuladas entre si. Não temos mais este direito. Se o Plano Diretor foi um avanço, vamos usá-lo, então.

Valter Caldana

* Na nonaBia (a IX Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo “Arquitetura para todos, construindo cidadania”, na Oca em 2011, fizemos oficinas de desenho urbano e de habitação, onde os visitantes, leigos em sua grande maioria, projetavam sua visão sobre as duas questões. Resultado fantástico!
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