E o PMDB, hein!

As maravilhas da língua portuguesa e da pontuação…
Há três meses escrevi “E o PMDB, hein?” Agora troco a ? pela !.

E o PMDB, hein! quem diria, saiu do armário!

Quem diria, o PMDB saiu do armário e foi “prá cima dos homi” como diz o populacho ao comentar o tradicional esporte bretão. E, como um bom praticante da nobre arte, colocou a presidenta e seu projeto no corner, debaixo de uma saraivada de jabs, que é uma tática usada para dominar o adversário, não para nocautear. É nesta fase da luta que o atacante estuda e verifica se e quando já vale a pena um cruzado de direita demolidor.

No boxe, de modo geral, a definição deste momento era controlado e calculado nas casas de aposta. Dependendo do que estava apostado – quem vence … em que round cai um… quanto aguenta o outro… – o empresário definia o momento e o técnico comandava o lutador, que desferia ou não o cruzado mortal.

Na política democrática burguesa isto se define no Congresso. E quem tem o Congresso, e o país profundo, nas mãos é o PMDB. São os vários PMDBs, que estão aplicando a tática dos jabs com maestria.

O PMDB, diga-se de passagem, foi o partido que abrigou a grande coalizão de 1965 a 1988, foi quem corroeu a ditadura por dentro, fez a transição para o regime democrático e se manteve no poder desde então.

Por ser um “partido frente”, partido ônibus, soube cooptar e abrigar, pós Constituição de 1988, tudo o que havia de mais estranho, porém legítimo, na política brasileira que não encontrasse abrigo nos então puristas PT (esquerda, trabalhista?), PSDB (centro, social democracia?), PFL (direita liberal) e, por que não dizer, nos herdeiros da ARENA (direita tout court).

Por saber fazer conviver em suas fileiras as maiores disparidades e nossos grandes disparates políticos, sempre teve uma vocação e um savoir faire incontestável para o poder. O PMDB é guerrilheiro, é um guerrilheiro infiltrado nas entranhas do governo.

Enquanto isso, os “cumpanhêro” do PSDB e os “coxinhas” do PT, que fizeram a linha de frente e alimentaram esta cobra e este sistema nos últimos 21 anos com polpudas mesadas e quinhões de poder, hoje já corrompidos e desfigurados se degladiam ridiculamente, promovendo um dos mais constrangedores espetáculos políticos que se tem notícia. Disputam um poder que já perderam ou que, mais provável, nunca tiveram.

Mas… Neste momento o PMDB muda de tática. Vem à tona com uma nova geração de lideranças.

Esta é a grande novidade da política brasileira dos últimos 20 anos. O PMDB resolveu sair da sombra, da linha do coro. Veio para o centro do palco.

Nunca fez isso, não foi sua estratégia desde 1965 (50 anos!!). Será que vai dar conta? Será que saberá tocar o país sendo vidraça, sendo protagonista, sendo o astro? Não é fácil sair da cozinha e ir para a sala de estar… Quem é o estadista do PMDB? Quem é seu garoto propaganda, qual a sua cara?

E o PT e o PSDB? Vão acordar? Vão se mexer? Vão assumir suas responsabilidades históricas neste momento de reorganização da estrutura política brasileira? Vão parar com a palhaçada de um pseudo bi partidarismo que tem pelo menos três agentes e não dois? No fundo, morrem PT e PSDB por sua histórica pretensão e soberba…

Avançamos e fomos vitoriosos nos últimos 21 anos. O saldo é extremamente positivo. Mas o modelo de transição da ditadura, lento e gradual (para bom entendedor meia palavra basta), projetado e implementado ainda na década de 70 (em abril e outubro de 77?), se exauriu. Acabou. É disto que estamos falando.

Qual o modelo do século XXI? Constituinte já, independente, para decidirmos isso?

Ou reforminha política num Congresso ocupado com outras querelas e questões de sobrevivência?

Valter Caldana

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