O Estadão continua sendo a favor, só que contra…
Em artigo sobre o número de mortos por acidentes de bicicleta na cidade em 2014 vem com uma manchete que é um espetáculo e uma matéria que é uma aula de matemática e estatística…
“Morte de ciclistas cresce 34% em São Paulo”
Pronto, assustei! Ih! Caramba…
Primeira pergunta: mas quanto cresceu o número de ciclistas e de viagens?
Bem, deve estar na matéria.
Vamos à leitura da matéria, em números:
“Dos 47 ciclistas mortos no ano passado, 43 eram homens, 16 tinham entre 10 e 19 anos e 12 deles eram estudantes. Além disso, dez vítimas morreram no local do acidente, na hora, 17 no mesmo dia, depois do socorro médico, 15 morreram até um mês após o acidente e 5, depois de um mês de internação.
O relatório detalha que 35 mortes foram ocasionadas por colisões com outros veículos: duas com motocicletas, sete com caminhões, 11 com ônibus e 15 com carros.”
Bem, extraindo um dado relevante: usando o número de mortos como amostra, podemos fazer uma manchete alternativa:
“75% dos ciclistas de São Paulo são trabalhadores, 25% estudantes.”
(Claro, colocando possíveis desempregados como sendo trabalhadores, dando-lhes o benefício da dúvida).
Caramba! Ok, mas quanto aumentou a número de viagens!!!?? Quantas mortes ocorreram nas ciclofaixas??!!
Opa! Chegou:
“A CET ‘ARGUMENTA‘ (g.n.) que apenas UMA (g.n.) das mortes de ciclistas aconteceu nas recém-construídas ciclovias. Foi um caso de queda, em que o ciclista perdeu o equilíbrio. E que, de agosto a dezembro, com os primeiros quilômetros de novas ciclovias em operação na capital, houve registro de 17 casos – menos da metade.”
Traduzindo: aproximadamente 2/3 das mortes ocorreram antes das ciclovias e 1/3 depois, no mesmo intervalo de tempo.
Ou seja, manchete alternativa 02:
“Ciclovias reduzem o risco de morte de ciclistas por acidente em 50%”
Manchete altenativa 03 (esta tão panfletária quanto a que foi para a prensa):
“Menos de 1% das mortes por acidente de bicicleta ocorrem nas ciclovias!”
Mas… usando ainda uma vez o número de mortos como base amostral, posso dizer, numa manchete alternativa 04:
“Menos de 1% dos ciclistas de São Paulo usam as ciclovias.”
Mas, o dado mais importante não veio com a matéria (li e reli)…
Qual foi o aumento do número de viagens? >34% ou <34%?
Confiando na repórter, parece que nem a Prefeitura sabe. Portanto, a manchete alternativa 05 não pode ser gerada, apenas imaginada:
“Apesar do aumento do número de mortos, supõe-se que houve crescimento negativo na letalidade dos acidentes.”
(“letalidade” na manchete… pronto, acabo de ser demitido pelo editor! ehehehe)
Só para lembrar, mais uma vez…
São Paulo entre rios está descobrindo as bikes via Suécia e Dinamarca, mas elas foram, até há bem pouco, mas bem pouco tempo mesmo, o principal modal de transporte na maior parte das cidades do Estado de São Paulo e do interior do Brasil…
Nestas cidades, não muito tempo atrás, todas as bicicletas tinham que se registrar na Prefeitura e tinham placa de identificação, como os carros e motos.
Será que não é bom começar com isso logo, antes que seja tarde e vire outro ControlAr? Antes que continuemos a implantar o sistema apenas parcialmente, sem as informações, os pontos de parada, o pontos de manutenção, estacionamentos, informações, sinalização, intermodalidade…
Qual a dificuldade de abrir uma licitação ou um chamamento público de interesse para fazer uma rede de apoio logístico às ciclovias, com prazo de implantação em 12 meses (até junho do ano que vem, para pegar as férias da molecada…)
Afinal, só para lembrar os meus amigos da prefeitura: do mesmo jeito que se descobriu que é “fácil” implantar – é só fazer – temo que se descubra logo adiante que é fácil desfazer: é só pintar de preto ou, pior, transformar em vagas zona vermelha, primas irmãs da zona azul…
A pensar…
Valter Caldana