Proposta de zoneamento pode permitir instalação de equipamentos públicos em áreas verdes periféricas.
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A falta de terrenos para a construção de equipamentos públicos da maior importância – creche, escola, posto de saúde – é um problema grave que deve ser fortemente combatido com medidas firmes e criativas por parte do poder público. Ok…
Mas romper a integridade de praças e áreas verdes não deveria fazer parte do rol de soluções criativas… É medida paliativa. Veste-se um santo para desnudar o outro.
Não é tirando área ou desconfigurando um equipamento imprescindível que se solucionará a falta de áreas para outro equipamento também imprescindível. Ou as áreas verdes na periferia são prescindíveis? Além disso, as praças que já possuem estes equipamentos – República, Buenos Aires, Luz, etc – já nos mostram que não é sequer uma solução tão boa assim… ao contrário, é bem questionável.
Talvez soluções firmes e criativas estivessem mais ligadas a
. reaver áreas ocupadas indevidamente, tais como centros de treinamento, clubes e etc.;
. retrabalhar o patrimônio de heranças vacantes, mais abundantes do que se imagina;
. acionar grandes devedores de impostos – IPTU e ISS (como no recente caso da Chácara do Jockey) e negociar estas dívidas por glebas, terrenos ou imóveis;
. trabalhar incessantemente para que o poder público possa usar o seu poder de compra (e venda), compondo um estoque regulador de terra urbana baseado em ativos reais, esta sim uma solução criativa, consistente e definitiva.
Soluções paliativas se eternizam, e, neste caso, além de ser um simples paliativo, a proposta parte do princípio de que, por definição, áreas verdes, de encontro, de lazer, de descontração e de desconcentração urbana, sobretudo em nossa periferia, onde estas fazem tanta falta, são utilizáveis para outros fins, ainda que nobres.
Os movimentos sociais e culturais existentes na periferia de São Paulo, do Hip Hop aos Saraus Literários mostram que foi ali que começou o saudável resgate do espaço público pelo cidadão, movimento que chegou à cidade consolidada mais de dez anos depois de iniciado.
Fico sempre em dúvida aonde os paliativos vão nos levar enquanto cidade e cidadania?
São Paulo não é uma cidade para aspirinas!
Valter Caldana