O estadão traz uma entrevista muito boa do Luiz Eduardo Soares sobre organização policial e segurança. (leia aqui)
Assunto complicado, que é indelevelmente ligado à construção da nossa fragilíssima cidadania.
Se tomarmos em conta a organização, o preparo e sobretudo a atuação das GCM – Guardas Civis Municipais (Metropolitana, no caso de São Paulo, nunca entendi bem) o que se pode ver é uma absurda militarização de seus métodos e atitudes. No caso paulistano, veja os uniformes, os equipamentos, a pintura dos veículos, a atitude da guarda.
Guarda-civil, aquele que era um agente público da ordem, um vigilante patrimonial, que era um educador, que ia às escolas conversar conosco, que estava na frente da escola perguntando o que é que o pipoqueiro estava vendendo, que sorria e era cumprimentado pelo cidadão (pasmem mais jovens, isso existiu e não faz tanto tempo assim!) estamos longe de ter.
O que temos é uma militarização disfarçada, onde se confunde “militar” com “ações violentas e desproporcionais contra o cidadão”. Porrada mesmo. Outro grande equívoco. A força militar do Estado não existe só para dar porrada. E, vale lembrar, a tropa dá a porrada que o comando assente, pois é disciplinada.
O que se discute, na prática, quando se fala em desmilitarização, smj, é quem vai julgar o policial que comete falta. Um tribunal militar, corporativo, ou um tribunal civil, a priori não corporativo. Neste caso, já presenciamos de tudo: tribunais civis extremamente corporativos e tribunais militares extremamente rigorosos com a conduta dos seus.
Será a nossa sociedade capaz de montar uma polícia republicana, inteligente, cidadã, bem treinada, bem remunerada, bem equipada, forte e consciente de sua função social? Isso interessa realmente a uma sociedade que convive e apóia a violência policial como política pública e como estratégia de combate à violência, que permite e reproduz a criminalização da pobreza e que, docemente constrangida, tolera os extermínios, as torturas e as chacinas?
Enfim, qual a saída?
Valter Caldana