Começo dizendo que sou contra qualquer aventura que envolvas o não pagamento da dívida, e lamentando que o gráfico ao lado não separe custeio de investimento, juros de amortização.
Dito isto, como o super ministro da fazenda, seu presidente e toda a grande imprensa nos ensinaram que gerir as contas públicas é igualzinho a gerir o orçamento familiar, tudo o que eu disser tem lastro em pouco mais de 40 anos de experiência com orçamentos complexos, ou seja, familiares…
Se olharmos o quadro e se acreditarmos na conta de déficit público que nos apresentam de – arredondando, como se faz em discussões de orçamento familiar – uns 200 bilhões, veremos que o rombo é de mais ou menos 10% (arredondando ‘prá cima, prá não ter erro’ como se faz em orçamentos familiares).
Bem, rombo se combate de dois jeitos. Gasta menos ou ganha mais. Certo?
O que faz uma família como as nossas, de gente de bem, trabalhadora, interessada em crescer pessoalmente, ascender socialmente, conquistar conforto, bens, segurança para o futuro desta e das novas gerações – filhos e netos? O mesmo que fizeram nossos pais e avós… trabalhamos mais!! E mais, e mais.
Mas para trabalhar mais, para se desenvolver, para garantir a segurança do futuro, é preciso investir… Ter três empregos é mais condução, é comer fora de casa, é ficar mais doente… Despesas aumentam. É abrir mão de horas de lazer e de descanso… É verificar a possibilidade de abrir um negócio… fazer coxinhas e sanduíches de mortadela para vender na faculdade ou na firrrma… mais necessidade de investimentos… è assim que funciona. Para ganhar te que gastar. Tem que investir, tem que acreditar.
Para fazer esforço também. Tem que saber por que está fazendo o esforço, o sacrifício…
Mas para que estamos fazendo todo este esforço? Ah, sim!!!! Este esforço só tem sentido por que estamos lutando para ter segurança hoje e no futuro… O que é ter segurança hoje e no futuro? Ter saúde e moradia hoje e educação, muita educação para as crianças, para poderem subir na vida e ter segurança no futuro… Todos ouvimos de nossos pais e avós que na vida podem te tirar tudo, menos seu caráter e seus estudos… Pois bem… é por isso que nos sujeitamos a sacrifícios. Para garantir segurança hoje e segurança no futuro.
O outro lado… gastar menos.
Claro, para cobrir o rombo temos também que gastar menos… O que também exige mais trabalho, mais atenção e, acima de tudo, critério!!!
Cortar linearmente é simples… Cortar com critério dá trabalho… Quantas vezes vi minha avó, que levantava 4h30 da manhã ficar até tarde fazendo contas e vendo onde ia cortar… Ou meus pais, contas e mais contas… Isto é trabalho!!! como diria o grande Muricy.
Para quê o esforço mesmo? Ah! para termos moradia, saúde e educação… presente e futuro. Bem, se o esforço é para isso, para termos futuro, então já sabemos onde NÃO vamos cortar… Já sabemos no que não vamos cortar… Educação, saúde e moradia (que inclui infra estrutura urbana). Ok? Combinado?
Bem, então vamos cortar no quê? Renegociando dívidas, cortando privilégios e excepcionalidades, cortando supérfluos e gastando melhor, economizando no dia a dia.
É por isso que esta pec é uma imbecilidade, uma afronta à nossa cidadania, à nossa inteligência. Por quenos impõe o caminho mais fácil, o caminho do corte, do limite de despesas (que incluirá, fatalmente, investimentos)… o caminho que não é resposta à motivação primária do esforço solicitado… aliás, é a resposta contrária.
O caminho que precisamos é outro… Vá fazer sua lição de casa, vá enfrentar os desafios que você foi eleito para enfrentar. Vá cumprir o seu programa. Vá cortar privilégios de corporações que vivem encrustadas como ostras no Estado. Vá organizar despesas, não diminuí-las. Crie programas de treinamento, invista!!! em pesquisa e desenvolvimento, em formação de pessoal. Proponha políticas industriais e de financiamento.
Cortar é fácil… mas leva à morte.
A questão é: quer cobrir o rombo? Vai trabalhar, vagabundo!
Valter Caldana