Sempre tem outra saída. Sempre.

Cada vez que ouço algum amigo constrangido, por honesto que é, dizer “mas não tinha outro jeito Valtão… Não tinha outra saída” me vem à cabeça um ensinamento paterno: tenha poucos princípios, pois assim você cuidará dos que tem com mais rigor e eficiência.

Entre o governo anterior e este há um “detalhe”, e este “detalhe” é que é a questão de princípio. Outra questão, que não é de princípio mas é de lamento é que nossa sociedade não consegue distinguir um princípio de uma preferência pessoal e confunde a defesa do princípio com a defesa de uma preferência.

A ponto de não conseguir manter uma conversa sobre este governo, apoiado na avenida por quem perdeu nas urnas, sem falar do pt, da dilma, do governo anterior….
dilma caiu, o pt acabou (está mendigando cargos na mesa da câmara e tentando encontrar oxigênio para se reestruturar em novas bases, imagino) e o Brasil construído pós milicos e pós 88 está sendo desmontado e enterrado sem qualquer complacência por um governo que recebeu este apoio e teve esta origem. Ou não?
E retornamos ao ponto… é a hora em que ouço: mas valtão, não tinha outro jeito, ela era ruim demais… E eu respondo: País sério aguenta governo ruim, organiza a oposição, trabalha, debate e vai para a eleição.

Quando defendo a convocação de uma Constituinte o faço exatamente no sentido de que o que se deveria era reconhecer que o pacto selado em 1988 está rompido, as instituições fragilizadas por seus ocupantes e o projeto de nação, de país e de Estado completamente comprometido. Não pela roubalheira do PT, do PSDB e, sobretudo, de seus aliados, mas talvez por que simplesmente tenha cumprido seu papel histórico de nos trazer até aquele ponto. O que se viu depois é que é a tragédia, a começar pelo desrespeito do resultado das urnas.

Quanto a governos de “esquerda” vale lembrar que todos os governo desde FHC 1 a Dilma 2 foram eleitos como sendo governos de “esquerda”. Sugiro que se pegue os índices da primeira posse de FHC até a posse de Dilma 2 para ver o que os governos de “esquerda” (que obviamente nunca foram) fizeram em 20 anos.
Chegamos mesmo a ter uma eleição entre dois candidatos de “esquerda” Lula x Serra onde, se alguns aqui tiverem memória, vão se lembrar que as propostas de Serra estavam à esquerda das propostas de Lula pós carta aos brasileiros, paz e amor, pois eram mais “desenvolvimentistas” e mais “nacionalistas”. Lembrar que Serra vinha da quebra de patentes da indústria farmacêutica e da implantação dos genéricos…

E, por fim, não vejo onde esta defesa seja uma defesa do governo anterior por princípio. Um governo que, sim, enfrentou os juros e a questão do incentivo à produção mas insistiu, por exemplo, no RDC para obras de infra-estrutura…

Valter Caldana

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