Solução de terceira

Só um detalhe que me ocorre e que compartilho com os entusiasmados da terceirização, para que eles se limitem a dizer que ela é inexorável (discordo) mas parem de dizer que é vantajosa (aí dói)…

A terceirização plena indica o seguinte quadro: ao invés de milhares de empresas de vários tamanhos abrirem vagas, de acordo com suas necessidades, de uma dada função ou profissão, algumas empresas serão montadas para contratar (no limite) todos os profissionais disponíveis daquela profissão ou para aquela função e irão alugá-los, “on demand“, para as empresas que deles necessitam.

Pois bem, daí decorrem dois efeitos…

O primeiro é que nos períodos de entre-safra, de baixa de atividade a empresa que tem o estoque de mão de obra precisará se auto equilibrar e fará isso de duas formas: ou mantendo o funcionário e pagando-o para ficar parado, o que é estranho mas possível, ou vai mandar o funcionário embora, com custos trabalhistas…

Em ambos os casos ela precisará de dinheiro para fazer isso, cujo ela só tem uma fonte para buscar, que é o próprio salário do seu empregado. Ou seja, este empregado deverá necessariamente ganhar sempre menos para que o sistema sobreviva.

O segundo efeito é ainda mais contraditório e perverso.

Onde hoje um profissional tem milhares de empresas oferecendo vagas, criando um saudável ambiente de disputa por sua mão de obra, portanto valorizando-a inercialmente, ele passará a ter pouquíssimas opções.

A ele restarão apenas as poucas empresas contratadoras de mão de obra de sua área, nas condições observadas acima. Os gatos contemporâneos. Ou seja, terá menos opções de escolha, menos opção de negociação, menos opção de progressão.

Imaginemos que tenhamos espaço numa cidade como São Paulo, cidade gigantesca, para 20 empresas/gato de oferta de mão de obra? Pois bem, aqui, local privilegiado, o sujeito passará a ter 20 opções de emprego. Em mercados menores, menos opções…

Enfim… que o emprego pós revolução industrial tal qual o conhecemos está fadado a desaparecer, e já desapareceu em diversos segmentos econômicos não é novidade e falar isso é chover no molhado, é enfadonho ter que ouvir como sendo uma grande descoberta a fundamentar uma argumentação.

O problema é a opção que se está dando a isso por aqui… uma terceirização desenfreada, com os direitos trabalhistas na iminência de serem drasticamente diminuídos ou eliminados, o SUS desmontado e sem custeio (e, para de frescura, sem investimento) e com uma aposentadoria ínfima depois de dezenas de anos de trabalho…

Valter Caldana

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