Houve época em que nossos marketeiros nem sabiam que o eram. Nesta época eles nos vendiam ilusões, sonhos, questionamentos… Criavam romances, modas, ídolos… Talvez nosso primeiro produto “premium” tenha sido Roberto Carlos criação de Carlito Maia e João Carlos Magaldi (Magaldi, Maia & Prosperi).
Anos depois, sob a ditadura, nos vendiam fugas, escapes, alienações da dureza do chumbo enrijecido que nos aprisionava. A inteligência demolidora, a fina e discreta ironia desafiadora, em peças gráficas geniais. As ironias de Petit, as mãos de seda de Murilo Felisberto, redatores geniais, compositores e cineastas não menos…
Talvez a campanha mais emblemática daquele momento onde se misturava fuga e alienação para fugir da dor tenha sido a da US Top – num momento extremo da ditadura a maciça campanha de Helga Miethke nos ensinava que “Liberdade, é uma calça velha, azul e desbotada.”
Andando um pouco mais, liberdades renovadas e esperanças conquistadas, a maravilha das explosões criativas… Dá-me um corneto! Carlito tenta fazer Carlitos mais conhecido que papai noel, e por um instante consegue, Washington alerta que uma mentira pode ser feita de múltiplas verdades.
Mas a fabricação de ídolos, em especial os musicais, começa a se tensionar entre legiões e para-lamas e as caldas areias baianas… os marketeiros já dominam, então, o seu ofício e sabem dosar custo, qualidade e lucro.
É quando se dá a grande fusão nuclear. O lado negro da força se organiza e depois de testes e tentativas aqui e acolá, nasce o primeiro grande feito da “skynet” tupiniquim. Fernando Collor de Melo.
De lá para cá foi no que se tornou esta linhagem de marketeiros, anjos sombrios a construir não mais sonhos e ilusões. Pesadelos que se tornam realidade.
Dormia a pátria mãe tão distraída…
Valter Caldana