O medo, este nosso conselheiro

Não podemos deixar de observer que boa parte do maniqueísmo tosco e obscuro que se abateu sobre nossa sociedade – num recorte amplo e vertical, por isso assustador – se deve não apenas a uma ignorância abissal e horripilantes desvios na sua já rasa formação moral e intelectual.

Se deve também à sensação de medo causada pelo desrespeito à vida que vigora há décadas em nosso país. Desrespeito este retro alimentado pelas próprias forças do Estado que também há décadas usa a violência como política pública de combate ao crime.

O medo é um péssimo conselheiro.

Numa sociedade que já professava abertamente a ideia de que “bandido bom é bandido morto”, acrescentar um “eu quero direitos humanos para os bons não para os maus” e descambar para o “tá com dó, leva ‘prá’ casa…” não custou um suspiro.

Daí para o “defendeu a Dilma é petista”, “defendeu o pt é bandido”, “é a favor de reforma da previdência é reacionário”, “defende justiça social é esquerdopata”, “gosta de ciclovia, vai ‘prá Cuba que é vermelho” e, pronto, “defende artista queer é pedófilo!” e tudo o mais que vem pela frente, nada nos custará…

A não ser a alma.

Valter Caldana

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