Gestão ou bacião? II

Depois dos assaltos às equipes de Fórmula 1, prefeito diz que privatização ajudará a resolver problema de segurança em Interlagos…
Ouvindo isso, não consigo não me lembrar do célebre discurso de GG (Gordon Gekko) ao assumir o controle da cia. aérea no filme Wall Street…

Aqui, no nosso caso, vender o problema ao invés de solucioná-lo parece que virou, definitivamente, uma política pública.

Mas, resta a pergunta, depois de liquefazer o patrimônio, o que restará?

Me refiro ao patrimônio público amplo senso, terrenos, imóveis, glebas, reservas ambientais, cursos d’água, subsolo, etc… Afinal, este patrimônio é um dos instrumentos necessários, vitais eu diria, para a elaboração e a implantação de políticas públicas em todos os setores. Serve para garantir o futuro dos netos e pode, se o gestor for bom e bem intencionado porém sem imaginação, até servir para viver de aluguel à espera de que apareça alguém que tenha uma proposta menos medíocre do que simplesmente vender e liquefazer…

Um dos argumentos para esta operação de liquidação de próprios municipais, insisto, sem projeto e sem objetivos pré-definidos, sob uma difusa alegação de que dão prejuízo e de que a cidade perde com eles e que, por isso a solução menos pior é vendê-los, responderia: não se perde o que não se tem! Por isso não precisamos do menos pior, precisamos do melhor. E se sua hora não é chegada, pois que esperemos.

Vejamos o caso específico de Interlagos.

Imagina se o Zuza (Prefeito Mário Covas) tivesse fechado/vendido o autódromo como ele disse que faria num dia de inspeção, após uma visita ao autódromo onde encontrou uma situação calamitosa.

Sendo ele quem era, no entanto, entre a fúria da visita e o retorno ao gabinete ordenou um levantamento de uso, custo, potencialidades e oportunidades e, óbvio, nem fechou nem vendeu Interlagos. Ao contrário, colocou todo mundo para trabalhar, reformou o lugar e abriu caminho para a renovação vantajosa do contrato com a F1 que depois a Erundina também se aproveitou adequadamente.

Quanto à esta contabilidade tão ‘precisa’ que a prefeitura divulga, prejuízo anual de R$40.000.000,00 , ainda gostaria de entender melhor.

Nos anos que estudei grandes espetáculos e parques temáticos aprendi que o faturamento principal não vem da bilheteria, mas que a bilheteria era, sim, um indicador importante da saúde do negócio.

Pois bem, o autódromo tem 20.000 lugares. A F1 tem ingressos que variam de R$600,00 a R$3000,00. Vamos colocar o ticket médio a R$1000,00… Por 20.000 lugares, são R$20.000.000,00 de faturamento bruto só com ingressos, que sabemos, não são a principal finte de faturamento! Coloque aí venda de produtos, participação em merchandising e contabilize, claro, um bilhão de espectadores olhando sua marca no mundo todo.

Mas, voltando apenas à bilheteria, ou seja , você tem o faturamento de 50% do alegado déficit em uma semana!! E as outras 50 semanas do ano??!! Afinal, de onde vem este prejuízo todo? Resposta simples: má gestão. Falta de ousadia, ação e imaginação. Não é falta de potencial nem de produto.

Pois bem, se é falta de gestão, que se coloque gestão… Aliás, parece que foi isso o que foi prometido na campanha… gestão! Não bacião…

Em tempo: não sou contra a prefeitura dar em concessão a exploração do negócio autódromo, Anhembi, sambódromo e Pacaembú. Acho que o papel do Estado é abrir fronteiras e auxiliar na consolidação de setores econômicos. Neste caso, hoje isto já está feito em todos estes setores, logo, já demorou realmente para passar seus encargos adiante.

Porém sou, sim, visceralmente contra a venda dos terrenos onde se encontram estes negócios. Isto trará um prejuízo incalculável à cidade, e significará a perda de um patrimônio irrecuperável para a prática de boa política de desenvolvimento urbano que sequer estamos elaborando ou preparados para implementar.

Há que se entender, de uma vez por todas, que para a terreno cidade e seu futuro estes terrenos, estas grandes áreas, valem incomensuravelmente mais do que os negócios que abrigam. Não perceber isso é não ter visão de longo e longuíssimo prazo o que, estando no comando da gestão da coisa pública, é de uma cegueira imperdoável.

Valter Caldana

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