Ainda sobre o programa de privatizações, em especial de grandes áreas estratégicas.
Seja como for, é difícil discutir este assunto em bases binárias, na base do ’0 ou 1′, bola branca x bola preta, cheio ou vazio.
Na base do ‘ou é a favor da venda ou é a favor do prejuízo’. Isto é coisa antiga que, como indica a sensatez, só interessa a quem não está bem intencionado.
Neste caso específico, a venda de Interlagos, gostaria de ver as contas deste prejuízo um pouco melhor elaboradas, como tratei em ‘Gestão ou bacião? II’ (leia aqui), um pouco mais transparentes… assim como gostaria de ver melhor elaboradas as premissas de utilização da área antes e depois de uma operação público privado deste vulto. Isto é imprescindível.
Afinal, temos um exemplo recente na Água Branca, onde a construção de um bairro novo com a participação do pequeno e do médio capital, de pequenos e médios empreendedores individuais, com usos múltiplos, diversificados do ponto de vista funcional e social foi substituído pela venda da gleba pela prefeitura para uma única grande construtora realizar ali um empreendimento imobiliário uno e hermético, ainda que formalmente aberto à população.
Por à venda áreas enormes sem projeto, sem destinação e sem parcelamento é injustificável. Não se trata de ser a favor ou contra a operação. Se trata de observar o quanto ela é potencialmente lesiva ao município no presente e no futuro.
E mais: antes da venda pura e simples e, pior, sem qualquer vinculação de destinação do apurado, defendo que há pelo menos uma meia dúzia de alternativas mais equilibradas e mais criativas para áreas como o autódromo, o sambódromo, o Anhembi e em breve o CEAGESP, entre outras tantas.
Ha hipóteses realizadas há décadas pelo mundo (e aqui também) que vão desde agências concessionarias da exploração dos serviços até mesmo empresas de economia mista com participação minoritária do poder público baseada no valor da terra, que não se desafeta, passando pela pulverização de cotas ou ações do serviço ou do produto no mercado… enfim, não me cabe esta questão. Há quem o faça muito melhor que eu. Apenas aponto que estas alternativas existem para que se afaste qualquer interpretação de que aqui se faz uma ode ao imobilismo ou um cântico de aversão ao capital ou sua participação na construção da cidade.
O que sei é que que vender, liquefazer em nome de um difuso investimento em educação, saúde, moradia e segurança sem nenhuma preparação, sem a observação de regras elementares de mercado, sem projeto, na bacia das almas e, pior dos piores, sem reconhecer a importância e o valor estratégico de terra urbana para a implementação de políticas públicas setoriais e de desenvolvimento urbano em especial fica difícil.
Pode até se justificar ideologicamente, como é o caso neste momento em São Paulo, mas não se justifica nem tecnicamente, nem politicamente.
Valter Caldana