O OVO DA SERPENTE

Esta nova, sedenta e faminta geração de peemedebestas, esta nuvem que domina o país e nos mergulhará em ao menos sete anos de desgraças, que comete crimes cotidianos, compromete estruturalmente nosso futuro e para quem, perversa que é, isto não basta. agora atenta contra o nosso passado.

Quem escolheu Aliança e Movimento para batizar os arranjos políticos pós golpe de 64 o fez de modo genial (alguém sabe quem foi? Golbery?) pois ali se estava refletindo exatamente o quadro político se tinha então.
De um lado uma aliança civil, composta pelos próceres da direita, pelos liberais e pelos oportunistas de sempre a sustentar uma ditadura militar mal disfarçada (1964/1968) e de outro um movimento composto por outras lideranças da sociedade civil em busca de rearranjar a normalidade democrática e de construir uma agenda mínima de atuação conjunta.

No momento em que se tornou um partido aquele movimento não estava apenas cumprindo uma Lei. Estava se assumindo enquanto tal. Como o fizeram o PT e o PSDB.
Que isto fique claro e redivivo na nossa memória.
Do MDB saíram três partidos.
O PSDB, um partido de quadros, um sonho social democrata urbano (pequeno burguês?), com projeto reformista desenvolvimentista com notas nacionalistas e profundos compromissos éticos e sócio-assistenciais;
o PT, um partido que se pretendia de “massas” mas que foi sempre um partido de militantes, um sonho social democrata trabalhista urbano, com notas nacionalistas, corporativistas e estatizantes agudas e amplo compromisso sócio-assistencial;
e o PMDB, máquina partidária multifacetada e amorfa que abrigou os setores da velha política que mantinham notas de nacionalismo e compromisso sócio-assistencialista, as pequenas lideranças fisiológicas e a rede de relações incestuosas entre os interesses públicos e privados que sempre esteve presente na política nacional desde os tempos do império e que sempre atuou de forma não orgânica porém hegemônica.
Do outro lado, da Aliança, saíram vários partidos, hoje melhor representados pelo DEM e pelo PP que abrigaram as lideranças da assim chamada direita ideológica mas também as pequenas lideranças fisiológicas (o outro lado) e aquelas lideranças que se locupletaram e se fartaram sem cerimônia com o ambiente ditatorial vigente de 1964 a 1985.

Sobre a rede de lideranças fisiológicas e a rede de relações incestuosas entre os interesses públicos e privados que sempre esteve presente na política nacional desde os tempos do império e que sempre atuou de forma não orgânica porém hegemônica, que não é nem de direita nem de esquerda nem de centro, vale dizer que esteve presente tanto na Aliança quanto no Movimento desde o início da ditadura civil-militar de 1964.
Os critérios de participação em uma ou noutro se davam quase sempre por disputa de espaço e questiúnculas na definição do poder local.
Esta rede não só sobreviveu como cresceu e continuou hegemônica na máquina administrativa, o assim chamado aparelho de estado, atuando sempre nas sombras. Como um parasita, abrigada no pmdb, se infiltrou no psdb e no pt a ponto de asfixiar e atrofiar o que tinham de melhor. Comprometeu até mesmo o DEM naquilo que este tem de vinculação ideológica mais definida.
E, agora, esta rede através de suas ávidas, famintas, sedentas e despudoradas lideranças assumiu pela primeira vez o poder central, sem filtros e sem intermediários.

E o Brasil continua à espera de um partido que possa abrigar honestidade, inteligência, ação e população sem ter que escolher três.

Valter Caldana

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