São Paulo, tempo de decisão.

A desistência por parte da Prefeitura de iniciar algumas obras viárias de grande porte previstas para os próximos anos, inclusive no Arco do Futuro, pode ser entendida de duas maneiras.
De um lado, o entendimento de que a atual gestão se apequena e sucumbe diante do problema de caixa, assumindo posição confortavelmente austera quanto ao empenho das verbas orçamentárias (in)disponíveis. Porém, se colocando numa posição pouco afeita ao espírito ousado e empreendedor paulistano e abandonando, assim, parte da motivação de sua eleição.
De outro, e é o que se deseja, o entendimento de que a atual gestão se dispõe, corajosamente, a enfrentar o maior desafio que a cidade de São Paulo tem diante de si nos últimos 80 anos: definir as diretrizes conceituais e as bases reais da cidade do Século XXI, superando o atual modelo vigente.
Na primeira hipótese a desistência é mal sinal.
Diminuir investimentos, sobretudo em infra-estrutura, se mostrou sempre um mal caminho a longo prazo, gerador de déficits monstruosos como os que temos que pagar ainda hoje.
Que o digam os movimentos populares, que enfatizaram com inequívoca clareza que as questões ligadas à saúde, educação, transporte, lazer se complementam, se consolidam e se materializam na questão urbana e na qualidade de vida daí decorrente.
No entanto, observada a segunda hipótese, o que se tem é a possibilidade de que a gestão do Prefeito Haddad esteja sinalizando de modo concreto que pretende enfrentar o desafio de mudar as bases do desenvolvimento urbano de São Paulo.
Deste modo, estaria encarando a dependência química aguda que nossa cidade tem do transporte individual como forma privilegiada de locomoção e auto-afirmação. E respeitando os processos em andamento de consulta à sociedade para a revisão do Plano Diretor e dos demais instrumentos de planejamento da cidade, incluída a tão cobiçada Lei de Zoneamento.
Se assim for, que seja bem vinda a decisão.
São Paulo vive hoje a necessidade inadiável de se redefinir. É preciso lembrar que a cidade que usufruímos é fruto de decisões corajosas que foram tomadas a 80, 100 anos atrás. As obras de remodelação do centro entre os anos 1910 e 1920 e o plano de avenidas de Prestes Maia, reafirmado por décadas e prefeitos no século passado, foram decisões e projetos ousados que construíram a cidade, com sua pujança e seus problemas.
Portanto, é preciso ver que se não forem tomadas decisões à altura das necessidades e da grandeza de São Paulo, corremos o risco de ficarmos, nos próximos anos, apenas com os problemas, sem a pujança. E este é o pior dos cenários possíveis.
É chegada a hora de assumirmos, coletivamente, que o modelo de cidade dispersa e rodoviarista que nos trouxe até aqui se esgotou, está exaurido e sem combustível. Não só não gera mais desenvolvimento e negócios, como os impede. Não só não gera mais oportunidades de inclusão social e desenvolvimento humano, como se mostra perigosamente excludente e segregador.
Assim sendo, superar o atual modelo e construir as bases da cidade do século XXI, compacta, pública, eficiente, inclusiva e bela é o desafio que está colocado para esta gestão e para a sociedade. E, se for para trilhar este caminho, adiar estas obras pode ser um marco positivo.
Aguardemos os próximos passos.

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