ou como fazer direito o que se corre o risco de fazer errado
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Ninguém mais do que eu teria páginas e páginas de argumentos contrários à decisão tomada pelo prefeito quanto ao destino do elevado ex costa e silva.
Cumprindo com sua responsabilidade e exercendo suas prerrogativas o prefeito da capital optou por manter o elevado ex costa e silva e sobre ele implantar, por etapas, um parque.
Em que pese discordar talmente da decisão do prefeito quanto a manter a estrutura, o fato é que finalmente uma decisão foi tomada. Marta, Serra, Kassab, Haddad, Dória, desviaram solene e despudoradamente do problema como se ele fosse um problema menor.
Não é!
É um problema que afeta o desenvolvimento urbano de toda a cidade de São Paulo, em raios concêntricos, exatamente por que a definição do destino do centro da cidade afeta a definição dos destinos da cidade como um todo.
A presença do minhocão é um entrave para a melhoria do centro e para que este volte a ocupar sua dimensão estratégica na cidade, que é a de articular as funções e referenciar os fluxos urbanos. Porém, a indefinição sobre sua natureza de uso é um entrave ainda maior!
Bilhões foram investidos no centro desde Marta e o que se colheu proporcionalmente? Menos do que o possível. Balanço negativo claramente devido à presença do minhocão (e também dos terminais) em que pese importantes avanços pontuais, .
Assim sendo, alvíçaras para a decisão tomada. Não é a melhor mas é uma decisão. Por isso não creio que se trate agora de discuti-la ou tentar revertê-la mas, sim, de colocá-la em prática, e rapidamente.
Mas, atenção! Colocá-la em prática rapidamente e… corretamente, utilizando-se as melhores técnicas de gestão descentralizada e participativa de que se dispõe, todas elas fartamente conhecidas por nós.
Elaborando um projeto amplo, tridimensional, que envolva muito mais do que as floreiras hipsters previstas na ilustração do parque e no atabalhoado anúncio feito pelo prefeito.
Um projeto amplo que traga respostas a questões tão distantes quanto o desejo de lazer no centro e as brutais necessidades de co-habitação de diversos perfis sócio-econômicos e culturais. Entre as questões ambientais e as urgentes necessidades de recuperação dos serviços públicos e privados ali existentes e abundantes. Entre outras como a vital necessidade de incremento de sua utilização com alta densidade, o que significa a necessidade de grande quantidade de lançamentos imobiliários e de recuperação de espaços públicos e democráticos.
Para isso minha proposta é a criação de uma Sociedade, uma empresa nos moldes da EMURB original, das atuais agências, das ZACs francesas ou das authorities americanas que englobe a gestão físico-financeira do processo e o organize em suas várias escalas.
Que consiga desfazer a quase ingênua porém gravíssima confusão que a prefeitura vem fazendo entre PIU e Operação Urbana e que consiga fazer com que se possa finalmente ultrapassar a barreira da escala urbana e seus planos idílicos e se chegue, finalmente, à escala humana e seus projetos ao alcance do cidadão. Que se lembre que projeto urbano não é um projeto de arquitetura grandão mas tampouco é só um conjunto de diretrizes e índices de aproveitamento do solo.
Trata-se de uma proposta fácil de fazer, rápida de implantar, segura e participativa como processo e, melhor dos mundos, a custo zero para a administração e cofres públicos. Na verdade, ao longo de seus dez a quinze anos de existência será generosamente superavitária.
O que falta? Pouco. Assim como decidir pela manutenção da estrutura só dependia de vontade política, fazer a implantação do que virá da maneira mais ampla, correta e eficaz possível, também.
Valter Caldana