Goooooollllll!!!!!!

ou da reforma da previdência ao zoneamento paulistano

É Gol,
Que felicidade!
É gol, o meu time é a alegria
Da cidade. ¹

O Brasil, entendido como tal a partir da inconfidência mineira, nunca produziu um projeto de nação, de Estado ou de país verdadeiramente coletivo, de baixo para cima, com real envolvimento de todos os segmentos, camadas, estamentos, castas e classes da sociedade.

Todos os projetos nacionais por que passamos foram impostos, e sempre se deram ‘de cima para baixo’. Sempre fruto de imposições de elites ou lideranças, ou ambas. E não me refiro aqui a questões de qualidade ou direcionamento ideológico destes projetos.

O que se pode notar é que todas as vezes em que houve participação social intensa e mobilização das ‘massas’, com grandes manifestações populares de rua, estas foram reativas e nunca propositivas. E sempre episódicas. No mais das vezes, reações à perda de privilégios ou de condições de vida, nos momentos em que estes projetos entram em crise ou se exaurem. Ou, simplesmente esticam a corda muito, mas muito mesmo, além do suportável.

O fato é que são sempre reações individuais a agressões sofridas coletivamente mas percebidas individualmente, ainda que simultaneamente. E é esta simultaneidade que provoca a ilusória sensação, sobretudo nos formuladores de políticas públicas, de que seja uma reação coletiva, provocando o clássico ‘falso coletivo’.

Isto faz com que os tais projetos nacionais, por falta de envolvimento na elaboração, de engajamento, de sentimento de pertencimento por parte da sociedade, tenham curta ou curtíssima duração.

Mesmo projetos de digestão fácil, como os projetos nacionalistas – em especial o dos militares da última ditadura – se esvaem. Prova disso é que nem mesmo na caserna o nacionalismo ainda encontra guarida. Temos as forças controladas por um comando que dá mostras de pouco valorizar o nacionalismo ou a preservação de riquezas e grandezas nacionais.

Assim sendo, a cada crise e a cada colapso de um projeto nacional em implantação exacerba-se ainda mais o individualismo na sociedade o que retroalimenta o processo. Não havendo ação coletiva propositiva, a somatória de reações negativas elimina precocemente as estruturas e os efeitos do projeto em colapso e comprometem as bases do que virá.

Isto se vê pelo comprometimento do nacionalismo, como já dissemos, e pela substituição do Brasil Grande pelo Brasil Vira Lata. Mais, se comprova exemplarmente pela facilidade com que legislações e políticas públicas de resgate da monstruosa dívida social acumulada em séculos, implantadas a partir da CF de 1988, estão sendo destroçadas pelos dois últimos governos, temer e Bolsonaro.

Ou na incapacidade de se implementar pactos por mais brejeiros que sejam, como o marco regulatório do desenvolvimento urbano numa metrópole como São Paulo, que depende disso vitalmente para sobreviver.

Enfim (como diz um amigo carioca, ele nunca acreditará na conversa de um paulista que não diga “enfim”), o fato é que enquanto no Brasil não formos capazes de formular um projeto nacional coletivo, de baixo para cima, que desperte os sentimentos mais sinceros de envolvimento, engajamento, alteridade e solidariedade, continuaremos nesta alucinada gangorra e, pior, neste selvagem salve-se quem puder. O que, num mundo de ciclos cada vez mais curtos, pode causar enjoos e náuseas.

Tudo isso se explica, afinal nossa revolução iluminista acabou na forca, nossa independência teve a fugacidade de um grito, nossa república a fragilidade de um golpe e nossa revolução urbana foi rural. Mas se explica mesmo é pela falta de uma educação básica eficiente, pública, diversificada e profunda, de alta qualidade.

Que consiga inculcar e despertar valores civilizatórios e éticos difusos, públicos e coletivos na população. Até lá, não tem jeito. Só nos resta esperar o momento de gritar “Gooolllll” !!!

Valter Caldana

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¹ João Lemos e Roberto Corrêa
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