Jorge, a definição do espírito público

Jorge Wilheim nos deixou.
Discretamente…
Discretamente nos deixou, discretamente viveu, elegante e intensamente.
85 anos de vida e 73 de São Paulo, 60 de profissão.
Mestre Jorge soube aliar prática profissional e capacidade de diálogo e espírito público como ninguém.
Durante toda a sua vida colocou seu conhecimento a serviço do interesse público, exercendo cargos importantes nas administrações públicas Municipal e Estadual.
Um ás na sua capacidade de articulação política, soube inserir a arquitetura e urbanismo, a cidade, na agenda de líderes políticos tão díspares entre si quanto Mário Covas e Marta Suplicy, Paulo Egídio e Luiz Fleury.
E o fazia discretamente, silenciosamente, e sempre surpreendentemente.

Quando menos se esperava lá estava Jorge, mais uma vez largando seu escritório em Perdizes para assumir uma Secretaria, uma empresa pública, um encargo espinhoso.
Espinhoso como quando em plena ditadura foi Secretário de Planejamento de Paulo Egídio, num governo ofuscado pela situação política de então, mas que preparou São Paulo com solidez para enfrentar a transição política e a crise econômica da década seguinte.
Encarar o desafio de frente e por dentro, preparar a máquina administrativa, o aparelho de estado, para enfrentar com alta capacidade técnica e grande espírito público as perversões do subdesenvolvimento e da injustiça era uma de suas maiores convicções.
De suas gestões saíram Vale Transporte, PROCON, Fundação SEADE, EMTU. Os estudos e diagnósticos elaborados pelas equipes que chefiou em órgãos como a Secretaria Municipal de Planejamento, a Estadual do Meio Ambiente e a Emplasa são referências para pesquisadores de todo o Brasil.
Pioneiro na questão ambiental, foi o primeiro a colocar os biocombustíveis na agenda do governo e a alertar para o colapso da drenagem urbana em São Paulo, por exemplo.

Jorge Wilheim, por surpreendente que possa parecer, por tudo isso, talvez tenha sido o arquiteto que mais influenciou os destinos de São Paulo ao longo do Século XX, desde Prestes Maia.
Seja por seus projetos marcantes como o Anhembi, Einstein, Anhangabaú, Pátio do Colégio, SESC Leopoldina, Teatro TAIB, seja pelos planos metropolitanos, planos diretores municipais e regionais que coordenou.
Pragmático, funcionalista, coerente, consistente, objetivo e acima de tudo um humanista generoso, muito generoso.
Amante dos jovens, como todo grande ser humano, tínhamos finalmente viabilizado sua volta ao Mackenzie para, como ele mesmo sugeriu, ficar sentado na praça em frente à escola, uma vez por semana, à sombra daquelas árvores, apenas conversando, conversando com os estudantes da escola onde se formou há 60 anos.
Não deu tempo.
Mas a praça é sua, professor, afinal o banco da praça é o espaço público por excelência.
Um abraço.

Valter Caldana

biografia

saiba mais

roda viva

This entry was posted in arquitetura e urbanismo, cotidiano, notícias and tagged , , , , . Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta