(D)escrevendo as cidades invisíveis

ou dando outro sentido ao termo e
outra compreensão ao livro

Há momentos na História em que a realidade se impõe de modo avassalador e coloca à prova toda teoria, e toda a teoria.

Por isso ´é tão importante para a humanidade, e para um país, desenvolver e manter hiperativa sua capacidade de teorização e crítica.
Para que em momentos emergenciais não tenha que começar do zero, mas tenha à sua disposição uma gama razoável de explicações e possibilidades.

Por exemplo a questão das favelas.
Existem três posições bem definidas diante delas.

Uma fortemente marcada pelo idealismo, com a qual mesmo não sendo um teórico eu me alinho, que as considera como sendo cidade. Tout court. Simples assim. E como tal devem ser tratadas.

Há uma segunda, a mais aceita e adotada inclusive pela parcela mais humanista e assistencialista do poder público que as considera proto cidades, pré cidades, quase cidades. E assim as trata.

E uma terceira, a hegemônica na sociedade e no poder público, que não as considera cidade, que as entende como algo à parte. Não cidades e, não raro, invisíveis.
Esta terceira as nega, a ponto de lhe roubarem até o nome.

Pois bem.
A realidade está aí.
Chegou na América Latina, onde as favelas são parte indelével da paisagem e do cotidiano de milhões de pessoas.
E, agora, se encaminha para a África, que o ‘estereótipo arquetípico” mundial (ocidental) considera uma grande e homogênea favela.

Já que em momentos de crise não há tempo para nuances, um destes três posicionamentos embasará, justificará e dará consistência e vigor à construção dos critérios que definirão às ações de reação emergenciais e pós emergenciais adotadas.

A crise não é hora de escolher o motorista, mas é bom saber qual a origem de seu modo de pensar para entender como ele agirá, ou conduzirá…

É, também, bom momento para observar e aprender.

De um lado aprender a teorizar mais e melhor.
E, de outro, a escolher melhor.

Valter Caldana

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