A flor do pântano

Estado de São Paulo prepara novo
Instituto de Pesquisas Ambientais

Devo dizer, aqui, que em discussões antigas de que participei sobre a formulação das políticas públicas ambientais no estado sempre saltou aos olhos o risco da duplicidade de atuações e dissipação de energia pela existência de várias instituições.

Dissipação que, muitas vezes, se expressava através de algumas idiossincrasias corporativas ou mesmo uma certa ‘estreiteza’ de abordagem determinada pelo escopo das instituições.

Vale lembrar que a própria criação da Secretaria do Meio Ambiente – rebaixada pelo atual governo – foi uma reação a isto, uma tentativa de fortalecer o tema, agilizar a ação e otimizar recursos. Uma iniciativa de sucesso, Jorge Wilheim seu primeiro secretário,
Eu mesmo, nas oportunidades em que trabalhei ou estudei este tema, sempre me perguntei se havia a necessidade de tantas estruturas paralelas e se não haveria um modo de otimizar recursos.

Além disso, o atual subsecretário tem uma vida dedicada ao assunto, à habitação e ao serviço público, além de ser uma das pessoas mais bem preparadas tecnicamente que há por ali.

No entanto, confesso, é impossível não se preocupar com o futuro e o passado destas instituições, que foram fundamentais para SP ser o que é, estar onde está e ir onde precisa, quando a unificação é feita deste modo. (notícia do Jornal da USP)

Vem baseada em mais extinções, desmontes, aposentadorias ‘precoces’, perda de conhecimento acumulado e dispersão de energia. Vejamos o exemplo da Emplasa, CEPAM, CDHU, a perda de identidade técnica do Metrô…

Esta unificação acontece sob uma orientação política que se orgulha de não gostar do Estado, que menospreza a máquina pública (muitas vezes dá mostras de sequer entendê-la do ponto de vista estratégico) e construiu seu discurso, sua hegemonia eleitoral e sua prática político-administrativa desmontando e ‘extinguindo’ estruturas vitais para a formulação de políticas públicas essenciais para SP.

Que entende a privatização, instrumento valioso de gestão, de modo anacrônico, como se fossem operações de compra e venda, em geral em liquidações.
Espero que as aflições aqui expressas sejam passageiras e que a prática, sobretudo graças aos técnicos sobreviventes, seja positiva e resista a esta fase difícil e perigosa.

Não nos esqueçamos, como faz quem desmonta a estrutura de inteligência do estado, que a mais efetiva resposta dada pelos paulistas à ‘derrota’ em 32 foi a criação de uma universidade pública, a formulação de uma política educacional maciça e de um aparato público de inteligência, que construiu a hegemonia de que desfrutamos. O fato é que, neste assunto, o passado recente justifica temores e tremores.

Espero que SP não seja vítima do apagão de conhecimento público que se avizinha, que vai nos colocar no pântano da pobreza, onde nascem raras flores, mas brota abundante a miséria.

Valter Caldana


Em tempo.
A vida continua pregando peças cotidianas no Brasil que desce a ladeira. É significativo que esta notícia venha no momento em que o nosso legislativo federal aprova o fim da necessidade de aprovações públicas para uma série de atividades altamente poluidoras e comprometedoras do equilíbrio ambiental.

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