Irreversível

Para pedagear um trecho de alguns poucos quilômetros da Raposo Tavares, o que será uma operação altamente lucrativa em função do volume de veículos que ali transitam diariamente, a proposta é destrui-lo.
Inclui destruir a mínima qualidade de vida de quem vive, trabalha ou simplesmente passa por ali desde Cotia até a avenida Pedroso de Moraes, com o estrago provocado pelo projeto avançando sobre o Alto de Pinheiros, a Vila Madalena e o bairro de Pinheiros.
Todo este esforço destruidor é composto por até 30km de desapropriação (15km de cada lado da rodovia), mais a desapropriação de aproximadamente 20.000m² para a abertura da bocs do túnel no trecho da rua Reação, a construção de mais um Túnel sob o rio e o alargamento de vias na outra boca (espero que sem desapropriacões) e o alargamento de vias em Pinheiros e vizinhança para dissipar a onda de estrago, espero que também sem desapropriações, caríssimas.
E todo este festival se deve, basicamente, porque para cobrar o pedágio é obrigatório oferecer rota alternativa similar gratuita. E, no trecho urbano da rodovia, ao lado (vide Castelo)
Esta operação, e este projeto, compõem uma tragédia de enormes proporções.
Chega a ser pior do que tragédias naturais e climáticas como um terremoto ou um tsunami, pois não é episódica. O estrago é permanente.
Como hoje somos uma sociedade que majoritariamente apoia a transferência do patrimônio público construído com o dinheiro e o trabalho de nossos antepassados para o privado, considera positiva a mercantilizacao do espaço coletivo e acha correto pagar por um serviço que visa lucro ao invés de pagar por um serviço que vise qualidade, faço uma sugestão.
Que apenas se altere a legislação e se permita pedagear o trecho em questão da Raposo sem que se cometa, se perpetre, este projeto destruidor que provocará estragos permanentes e irreversíveis na economia da cidade apenas para criar a rota alternativa grátis.
Que se assuma o desejo incontrolável pela cobrança do pedágio, aplacando o apetite voraz e a opção ideológica e se torne a operação eficiente, lucrativa e eficaz  sem os danos colaterais que estão projetados.
No atual perfil político-ideológico da sociedade refletido na composição da Assembleia  Legislativa, tenho certeza que um projeto de Lei desta natureza seria rapidamente aprovado. E a cobrança do pedágio começaria muito mais rapidamente, praticamente de imediato e pronto!
Indolor, rápido e com grande aporte tecnológico (pelo que entendi a cobrança vai ser automática, sem cabine).
Sim, a sugestão contém ironia. Mas nem tanta.
Segue…
As rotas alternativas existem e já são congestionadas, mas este não é o objeto do projeto. Elas são o os sistemas Francisco Morato/Eliseu/Régis e o sistema Corifeu/Autonomistas.
Com a vantagem de que com uma pequeníssima parte do que se vai gastar, podem receber umas migalhas de melhorias. Afinal, o asfalto eleitoral está aí para isso.
E com outra pequeníssima parte do que se vai gastar, daria para urbanizar o trecho paulistano da Raposo e instalar ali calçamento amigáveis e acessíveis nas laterais, um canteiro central decente e arborizado e uma via segregada para o transporte público de baixa e média capacidade.
Que aliás,  é o projeto que se propõe, há pelo menos duas décadas (ou mais), para de fato minorar as agruras da cidade nesta região.
Mas, para isso é necessário municipalizar o trecho. Ah… então aí não dá para pedagear! Volta ao zero!
Dá sim! Olha que interessante,  com um simples decreto municipal, mas pode até ser uma Lei, dá para São Paulo colocar o pedágio e ainda ser a primeira cidade a, finalmente, adotar o pedágio urbano em larga escala no Brasil.
Com a vantagem de, em seguida, implantá-lo também nas marginais, que já estão preparadas para isso desde a última grande reforma, mas faltou coragem à época.
Ou seja, (mais uma ironia ?), é puro avanço e inovação, a baixo custo e  sem destruição irreversível!
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