Havia um jovem deputado ontem na porta da Bolsa bastante entusiasmado, bradando que foram eleitos para privatizar o estado todo e que vão fazê-lo. Saúde, educação, transporte, etc. Tudo, anunciava ele.
Ele, o deputado, exalava um sincero entusiasmo, naquele vigor da juventude que é respeitável.
Mas, de significativo mesmo na fala do deputado me chamou atenção uma coisa. Foi a primeira vez que eu ouvi em público, com tanta sinceridade, que vão privatizar todo o estado, e o Estado, porque é uma opção ideológica e não uma necessidade. E que é uma vitória eleitoral, um mandato, algo que comento faz tempo.
Ou seja, foi a primeira vez que ouço oficialmente que não se está privatizando porque precisa fazer caixa para sobrar dinheiro para saúde, educação, segurança… mas apenas porque se acredita que tem que privatizar, vender as funções e o patrimônio do Estado.
Isto tem duas consequências, a meu ver.
Uma é que quanto mais clara ficar a motivação da privatização do patrimônio público, mais legítima ela será.
O eleitor vai votar pela venda de seu patrimônio porque acredita que não precisa mais dele, e não porque acredita que precisa vendê-lo. E, então, vai finalmente parar de dizer, diante de cada agrura ou desafio cotidiano, “o governo tem que fazer alguma coisa”. Não! Caríssimo, você tem que fazer alguma coisa.
A outra é que a esquerda e a centro-esquerda, que andam precisando acordar e dar uma boa revisada nos seus projetos, nos discursos e nas suas ações talvez possam se sentir mais solta e superar a vergonha de defender o Estado e o estado e, quem sabe, até estatizar ou reestatizar serviços e patrimônio perdidos onde lhes reste um quinhão de poder. Apresentar alternativa.
Este talvez seja um bom caminho para nós, eleitores, podermos escolher entre a verdade dos fatos e superarmos a situação vivida nas últimas municipais, onde mais uma vez se nos apresentaram basicamente uma lista desconexa de obras, todas ‘do governo’ , na prática equivalentes e muito parecidas entre si.
Valter Caldana