Me posicionei a favor da saída da sede do governo do Morumbi desde antes da eleição para governador, há dois anos.
Isto porque eu já defendia que isso acontecesse há muitos anos. E, indo além, defendia e defendo que o Palácio deve ser vendido e o Governador deve morar no centro da cidade. Há inúmeros imóveis tombados capazes de abrigá-lo e o dinheiro da venda do Morumbi pode ser empregado na adaptação e restauro do imóvel.
Dito isto, vamos ao concurso.
Execente que tenha sido feito pelo IAB.
Deu credibilidade e, sobretudo, dimensão adequada à uma operação necessária e que precisava, como precisa, estar acima e além de questões de curto prazo. Eleitorais ou político partidárias.
Cabe agora ao IAB avançar e discutir a arquitetura e urbanismo vencedora do concurso com a sociedade e a arquitetura e urbanismo vencedora e as não vencedoras com a profissão, em especial dentro das escolas de arquitetura. Estará, então, cumprindo o ciclo completo de seu papel, de suas funções neste processo.
Já passou da hora de se organizar uma exposição leve e itinerante, facilmente instalável nas escolas para que neste contexto o IAB leve os colegas participantes a debater com os estudantes.
E de instalar uma tenda enorme na Princesa Isabel, no terminal cheio de gente, com o projeto, cheio de imagens vídeos e maquetes físicas com estudantes monitores explicando o projeto e colhendo opiniões o dia todo.
Custo disso? Dinheiro de troco, traço, diante da operação financeira e econômica em si mesma.
Agora vamos à operação em si.
Desde que foi oficializada e lançadas as bases do concurso venho alertando para incoerências, teimosias e anacronismos que podem colocar todo o processo na gaveta. A saber e a verificar.
Mas, tudo isso, para chegar ao ponto que tem sido fortemente apontado, de que o projeto é segregador, que visa tirar a população pobre e preta da região para valorizá-la e auferir ganhos sobretudo para a esfera privada.
Pois bem. Aí estamos mais uma vez cometendo o mesno erro das últimas décadas.
Não é a operação ou o projeto vencedor que vão provocar mais segregação, desigualdade, remoções, desumanidade. Até porque, manter a população lá é tão simples quanto colocar uma meia e deveria ser tão automático quanto respirar.
O problema, e este é o erro a que me refiro, é que os efeitos nocivos do projeto, apontados, não são efeitos do projeto. Não são sequer efeitos.
Os efeitos nocivos são decisão política preliminar, fruto de uma posição hoje hegemônica na sociedade que continua apostando no eugenismo, no higienismo e na segregação, no isolamento como premissas qualitativas para a construção da cidade, sobretudo da imagem da cidade.
Qualquer que fosse o projeto, fosse ele idealizado pela Jane Jacobs, pelo Jan Ghel (vide o Anhangabau) ou mesmo pelos movimentos profissionais e pelos populares daria na mesma, com diferenças tópicas..
E por que?
Pelo que eu disse acima. Porque manter, incluir, incoeporar não são premissas, não fazem parte do programa. Porque a sociedade ainda não incorporou a integração e a diversidade ao seu programa qualitativo.
Nem a sociedade, nem seus agentes políticos, nem seus agentes econômicos e nem seus agentes técnicos incorporaram.
Entender a segregação como consequência do processo e não elemento inerente a ele é um erro tão primário quanto combater a sombra do moinho de vento. Eu prefiro, e me dedico a isso há meio século, combater os moinhos.
Insisto: sob este aspecto a questão não está dada pelo projeto ou como uma sua consequência. Ela estaria presente qualquer que fosse o projeto.
A questão é saber qual o projeto, para a cidade, que deseja a sociedade.
Amanhã, na hora de votar, pense nisso.
E vote.
VIVA A DEMOCRACIA
não apenas eleitoral, mas como
valor inalienável da sociedade !!
Valter Caldana