Neste final de semana nos deixou o Sylvio Sawaya.
Foi um cidadão ativo, participante. Dirigiu a falecida Emplasa, esteve em lutas políticas, ajudou em toda a preparação da fundação da academia de escolas de língua portuguesa…
Professor falsamente distraído, posto que super atento a seus afazeres e principalmente aos estudantes e seus alunos e alunas, estava sempre atrasado, risos. Nos dizeres de outro mestre querido, com quem ele dividia a disciplina, Sylvio era um gerúndio. Estava sempre chegando.
E chegava, já no meio da aula, para em seguida fazer o brilhante encerramento.
O que mais me admirava é que ele articulava, sintetizava, e dava sentido na sua fala final inclusive ao que havíamos apresentado e falado na metade da aula encontro em que ele não estava! Isto sob o olhar de “de novo” do Miguel e do sorriso maroto de “de novo” em respota do UbIrajara, o terceiro mestre da disciplina.
Quanto a mim, estreando na função de professor voluntário da Pós-graduação stricto sensu pelas mãos destes três, em especial do Sylvio, busquei naqueles dois anos estar à altura da honra que me havia sido oferecida sendo o melhor carregador de livros e preenchidor de listas que poderia haver.
Sylvio foi diretor da faculdade, a FAUUSP, num momento importante de sua história. Havia um desejo de que politicamente o departamento de projeto voltasse à direção da escola, cuidasse da Faustina, e para isso havia a necessidade de um candidato que emanasse respeito intelectual, em especial para dialogar com os outros departamentos. Lá foi ele.
Não se dava lá muito bem com todos, e polemizava bastante com meu orientador querido Joaquim Guedes, outra mente brilhante, e isto me rendeu aprendizados, além de histórias, exemplos e saias justas.
Histórias de saias justas, que pouco se adequam à minha silhueta desde sempre, e de generosidade e honestidade intelectual. Que, como homenagem ao Sylvio, compartilho uma aqui neste texto.
Foi a partir de uma prosaica conversa com o Sylvio, no balcão do bar em frente ao IAB, que desatei o nó górdio de minha tese de doutoramento, aliás tão bem engendrado pelo meu orientador. Nada mais natural, então, que eu o convidasse para integrar minha banca.
Receoso, o convidei. Ele não apenas aceitou, como deu uma aula brilhante em sua arguição, que foi importante para a compreensão do que eu mesmo havia escrito.
E, assim, seguiu marcando minha trajetória, como marcou a trajetória de tante gente nesta nossa área e nosso campo de atuação.
Muito grato, obrigado Sylvio, dos que conheci até hoje, o gerúndio mais infinitivo.
Valter Caldana