OUVIR ACREDITAR AGIR

Muitas vezes comparo a ação do arquiteto e urbanista à do médico que passou décadas dizendo que fumar acelera a morte.
O que lhes era sabido e óbvio era solenemente ignorado e, pior, contrariado pela sociedade. Até que um dia se alteram as condições gerais, se altera a correlação de forças, inclusive econômicas, que regem os grandes movimentos e os ouvidos se abrem. A centelha da cognição se faz presente e estruturas se alteram.
Posso passar o resto do dia citando aqui exemplos de problemas econômicos, políticos, sociais e culturais graves alertados pela nossa área de conhecimento.
Alguns mais escandalosos, como Maceió ou a ocupação das áreas de risco ao longo do litoral brasileiro… Outros menos rumorosos mas não menos como o minhocão em São Paulo, o túnel do Guarujá ou o novo PDE + Zoneamento da cidade.
O fato é que a surdez seletiva dos atingidos não pode ser, por uma questão ética, motivo para esmorecimento ou para que se deixe de lado os estudos atentos e aprofundados e os alertas.
O caso do centro de Salvador é um entre centenas em que a arquitetura e urbanismo explicitou com clareza a estrutura distorcida e parcial do que se estava fazendo e avisou, mais do que ao tempo e à hora, suas consequências.
Trinta e dois anos depois, a coisa continua. E avança. Mas, ser notícia de jornal, ainda que de elite e pouca circulação é bom sinal. Mais uma camada da bolha está furada.
Mais gente vai ouvir. E, com o tempo, poderá se dar a concretização da diferença entre ouvir, acreditar e agir.
Vai um cigarrinho aí?

Valter Caldana

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