O aprendizado de que todas as políticas públicas, os planos, os projetos e as ações delas decorrentes são fruto de uma correlação de forças que gera uma dada hegemonia, exercida por um grupo hegemônico. E que esta correlação de forças nasce dos embates sociais, em todos os níveis, dentro e fora do Estado e dos governos. Na verdade, mais fora do que dentro.
Esta é a força que permite ao grupo hegemônico determinar os critérios que serão usados para a tomada de decisão em todas as escalas e instrumentos citados.
Num país eleitoralmente democrático, mas sobejamente desigual e vocacionalmente segregado, em parte isso tudo se constrói nas eleições. As outras partes, com a energia gerada pelo embate cotidiano entre as forças sociais, grupos de interesse e corporações. Aqui, vale lembrar, uma energia potente, liberada num embate que não é nem equilibrado, nem justo. Tem lado e o juiz quase sempre pertence a um deles.
Assim sendo, decisões assustadoras do ponto vista técnico como comprar e construir o monotrilho, fazer um expresso aeroporto que é lento e não chega aos terminais, não fazer entradas de pedestres nas estações da CPTM do outro lado do Rio Pinheiros, obrigando milhares de ônibus a atravessarem o Rio em horário de pico, vender terra publica na bacia das almas e no atacado, manter enormes terminais de ônibus em pleno centro da cidades ocupando áreas valiosíssimas e destruindo o entorno e, não bastasse isso, tentar privstizá-los, fazer túnel na entrada de um porto que tem problema de calado, fazer vaga de automóvel em pleno calçadão, entre outras tantas pérolas e, agora, ampliar uma rede de trem de subúrbio com desenho e tecnologia que a Europa usou nas décadas de 1940 (italia) e 1950 (França), entre outras, não devem ser lamentadas e tampouco se deve cobrar apenas do decisor de plantão suas responsabilidades…
Afinal, há um enorme corpo técnico por trás de cada uma destas decisões, de cada projeto, de cada ação. Há um enorme conjunto de agentes envolvidos.
Assim sendo, uma decisão desta monta, como o TIC – Trem Inter Cidades, não merece ser comentado, analisado, contestado.
Basta degluti-lo, antropofagicamente, e entender que ele é resultado de nós mesmos. Resultante do que somos.
Não merecemos nada mais do que isto, pois não fazemos nada mais do que isto. Nem somos capazes de fazer.
Isto é o que temos. Para hoje e para sempre, isto é o que temos. Isto…
Valter Caldana
https://diariodotransporte.com.br/2023/03/11/governo-de-sao-paulo-aprova-modelagem-final-do-trem-intercidades-e-formalizacao-cptm-em-projetos-de-privatizacao/?fbclid=IwY2xjawL4XldleHRuA2FlbQIxMQABHg-IR2tr6PTQHUXAeuTedR9rWXemcdR5QNtmOIsk3JLghaCLzpwK84muwQFz_aem_RHVfWPGfkqxaCUCNKUUqXg