De quando em quando a prefeitura de São Paulo nos faz lembrar o que dá para ser, o que é e o que foi, tudo junto misturado e ao mesmo tempo.
Esta ideia de colocar vagas de zona azul no calçadão a partir das 19h00 e, mais irônico, dizer que é para atender o Theatro Municipal nos faz lembrar, realmente, que a contradição é a tônica da administração Municipal. E não me refiro a esta gestão. Isto vem de longe, vem de todo o período do apagão urbanístico que nos colocou onde estamos.
Senão, vejamos: ao mesmo tempo que a cidade faz uma discussão enorme e profunda sobre o recapeamento do calçadão, de anos, com projetos e mais projetos, promessas e mais promessas, assaca contra os mosaicos portugueses (que todo mundo acha lindo no mundo todo, mas em casa tudo muda), discute um subpiso inteligente e promete disciplinar as concessionárias que destróem o calçadão, vem com a ideia de colocar mais carros sobre o pobre do piso,
Ao mesmo tempo em que políticas públicas debatidas por conselhos, pelo corpo técnico da prefeitura, de fora da prefeitura, que tentam colocar São Paulo no seio do que de melhor há no conhecimento urbanístico mundial numa tentativa já quase desesperada de manter a importância específica que a cidade tem no cenário planetário,
Ao mesmo tempo que promessas, medidas e planos são feitos para melhorar o transporte público e as modalidades ativas de locomoção e mobilidade geral,
Ao mesmo tempo que políticas públicas importantíssimas na área de cultura, turismo e lazer são implementadas pela gestão pública e pela iniciativa privada, no sentido de tornar a cidade mais inclusive, mais democrática, mais culta, mais bela, menos perversa e menos segregadora, ao menos no discurso,
Ao mesmo tempo que isto tudo, vem esta ideia…
E com esta justificativa.
200 vagas de automóvel particular, individual, para atender um teatro de 1600 lugares (1500 e poucos, sim). Um teatro que tem mais de um século de funcionamento e tem um projeto tão adequado que qualquer solução de concessão de serviços de valet se ajustam perfeitamente à sua entrada monumental…
Isto sem falar de soluções simples como um serviço com pequenos veículos elétricos que façam a ‘ponte’ entre a porta do teatro e os estacionamentos do entorno.
Ou, melhor ainda, entre a porta do teatro e as fartas estações de metrô e terminais de ônibus (que deveriam estar lá) existente na vizinhança imediata (Estações República, Sé, Anhagabaú, São Bento e terminais Bandeira, Correios e minhcãozinho).
Ou, quem sabe, um circular cultura, confortável, expresso, elétrico, que faça a ligação de nossos dois maiores centros culturais, o eixo Paulista do CCCB ao IMS e o calçadão central… vixe…, será?
Aliás, este fragmento urbano descrito acima, com aproximações, está grafado em um dos “n” planos da cidade, já nem me lembro qual, como “setor cultural” ou algo assim, merecedor de algumas vantagens (?) do setro público.
Mas, aí vem o precedente…
Ora…se vamos abrir para vetusto Theatro, então por que não abrir vagas também para o CCBB, o SESC 24 de maio, os mirantes, Martinelli, Banespão…
E, já que abrimos as vagas para estes importantíssimos equipamentos culturais, por que não abrir vagas para outros equipamentos de lazer e diversão noturna… bares, cafés… talvez fosse bom, passado algum tempo, abrir as vagas um pouquinho mais cedo… e mais cedo, e um pouquinho mais…
E, já que temos as vagas noturnas espalhadas por todo o centro, quem sabe então não deixá-las acessíveis durante todo o final de semana, da sexta-feira às 19h00 até as 06h00 da manhã de segunda?
Ah, legal… aí dá para você irá ao “parque” minhocão e deixar seu carro estacionado na rua.
Feriados, que tal?
Ou, então, já que nos acostumamos a ter carros de novo no calçadão, por que não permitir estacionamento apenas de um lado das ruas… dá para encarar.
E, claro, por fim, vale lembrar à turma que temos ali dois espaços espetaculares para colocar vagas, um deles recém construído que está ‘no jeito’, que é o próprio Anhangabaú… que se complementa com o terminal bandeira, que a partir de um determinado horário não tem mais ônibus e pode virar estacionamento noturno… Sem falar no Patriarca (que, por ser coberto, pode ser reservado para vagas VIP)…
O Anhangabaú, inclusive, é praticamente o estacionamento da prefeitura e do Municipal!!!
Aliás, Anhangabaú, Patriarca e Bandeira, décadas atrás, eram exatamente isso, estacionamentos.
Como é fácil andar para trás… difícil mesmo é estacionar.
Bem, chega… a campainha tocou e tenho que atender o papai noel que está lá na portaria querendo falar comigo.
Valter Caldana