Sobre Planejamento Urbano e Planos Diretores *

A substituição da aproximação global da realidade, que tratava de ampliar as variáveis a serem consideradas na elaboração do projeto de intervenção, pela globalização das propostas formuladas pelos planos, trouxe consigo, para o arquiteto, a diluição não só dos objetivos, como do próprio objeto de seu trabalho.
Esta transformação, aparentemente sutil, na realidade é definidora da postura adotada pelos arquitetos frente ao planejamento.
E reforça ainda mais a idéia de que, apesar da multidisciplinaridade inerente ao próprio tema, quanto mais se distanciou do “fazer cidade”, sob o manto de uma globalidade dificilmente tangível, e do projetar no seu mais amplo significado, mais fragilizada se tornou sua participação e sua capacidade de intervenção na discussão dos destinos da cidade. Mais fragilizado tornou-se, concomitantemente, o plano enquanto instrumento de ação, não de uma administração, mas de toda a sociedade.
Resgatada aquela crise a que se referia Argan, porém não mais naquele momento de reconstrução de cidades no pós-guerra, mas sim no contexto de um país latino-americano que mergulhava no autoritarismo de uma ditadura militar e em sua maior crise financeira, buscam-se aí respostas para a redefinição do papel do arquiteto no planejamento das cidades.
A partir daquela compreensão inicial, de que o contexto político e administrativo não deve ser considerado o único determinante da ação do arquiteto no planejamento urbano, nem dos resultados dos planos, pois outros fatores possuem igual ou maior influência, é possível afirmar a necessidade da busca destas respostas também em outros momentos da evolução do planejamento urbano.
Se o autoritarismo se serviu do planejamento urbano e, calando uma geração, atrasou o andamento deste debate, é verdade também que o debate sobre a postura do arquiteto frente a seu objeto de trabalho, o espaço construído, o ambiente humano, precede este momento.
Ao final deste trabalho, o que se pretende deixar como contribuição ao debate sobre o planejamento urbano e a participação do arquiteto nesta atividade é, portanto, o resgate de algumas considerações que parecem pertinentes:
Inicialmente, destaca-se a necessidade de um aprofundamento do conhecimento e da crítica ao processo de elaboração de planos, mais do que ao próprio plano enquanto produto acabado;
Recuperar, neste debate, o momento em que se deu a mudança qualitativa da participação dos arquitetos nas reflexões sobre a cidade, com o conseqüente distanciamento de seu objeto de trabalho;
Finalmente, a consideração de que, para a retomada de sua posição neste processo, é necessária a retomada do debate a partir daquele momento preciso aferido anteriormente.
O que se considera é a necessidade de que, com a clareza e a simplicidade de seu traço, o arquiteto seja capaz de reinserir nas reflexões sobre a cidade e sobre o viver humano –  sua matéria-prima – a invenção do projeto –  seu produto.
Com certeza, assumindo esta responsabilidade que é sua – traduzir em realidade, em construção, os sonhos – poderá o arquiteto contribuir decisivamente para a desmistificação e a reinserção do planejamento urbano, do urbanismo – ou seja qual for o nome que se dê à necessidade de estudar, conhecer e projetar a cidade – no cotidiano de ação da sociedade.

A substituição da aproximação global da realidade, que tratava de ampliar as variáveis a serem consideradas na elaboração do projeto de intervenção, pela globalização das propostas formuladas pelos planos, trouxe consigo, para o arquiteto, a diluição não só dos objetivos, como do próprio objeto de seu trabalho.Esta transformação, aparentemente sutil, na realidade é definidora da postura adotada pelos arquitetos frente ao planejamento.E reforça ainda mais a idéia de que, apesar da multidisciplinaridade inerente ao próprio tema, quanto mais se distanciou do “fazer cidade”, sob o manto de uma globalidade dificilmente tangível, e do projetar no seu mais amplo significado, mais fragilizada se tornou sua participação e sua capacidade de intervenção na discussão dos destinos da cidade. Mais fragilizado tornou-se, concomitantemente, o plano enquanto instrumento de ação, não de uma administração, mas de toda a sociedade.Resgatada aquela crise a que se referia Argan, porém não mais naquele momento de reconstrução de cidades no pós-guerra, mas sim no contexto de um país latino-americano que mergulhava no autoritarismo de uma ditadura militar e em sua maior crise financeira, buscam-se aí respostas para a redefinição do papel do arquiteto no planejamento das cidades.A partir daquela compreensão inicial, de que o contexto político e administrativo não deve ser considerado o único determinante da ação do arquiteto no planejamento urbano, nem dos resultados dos planos, pois outros fatores possuem igual ou maior influência, é possível afirmar a necessidade da busca destas respostas também em outros momentos da evolução do planejamento urbano.Se o autoritarismo se serviu do planejamento urbano e, calando uma geração, atrasou o andamento deste debate, é verdade também que o debate sobre a postura do arquiteto frente a seu objeto de trabalho, o espaço construído, o ambiente humano, precede este momento.Ao final deste trabalho, o que se pretende deixar como contribuição ao debate sobre o planejamento urbano e a participação do arquiteto nesta atividade é, portanto, o resgate de algumas considerações que parecem pertinentes:Inicialmente, destaca-se a necessidade de um aprofundamento do conhecimento e da crítica ao processo de elaboração de planos, mais do que ao próprio plano enquanto produto acabado;Recuperar, neste debate, o momento em que se deu a mudança qualitativa da participação dos arquitetos nas reflexões sobre a cidade, com o conseqüente distanciamento de seu objeto de trabalho;Finalmente, a consideração de que, para a retomada de sua posição neste processo, é necessária a retomada do debate a partir daquele momento preciso aferido anteriormente.O que se considera é a necessidade de que, com a clareza e a simplicidade de seu traço, o arquiteto seja capaz de reinserir nas reflexões sobre a cidade e sobre o viver humano –  sua matéria-prima – a invenção do projeto –  seu produto.Com certeza, assumindo esta responsabilidade que é sua – traduzir em realidade, em construção, os sonhos – poderá o arquiteto contribuir decisivamente para a desmistificação e a reinserção do planejamento urbano, do urbanismo – ou seja qual for o nome que se dê à necessidade de estudar, conhecer e projetar a cidade – no cotidiano de ação da sociedade.

Valter Caldana

___________________________________________________________________________________

*Texto escrito em maio de 1994, 20 anos se passaram.
Parte das conclusões da dissertação de mestrado ” Planejamento Urbano: uma reflexão sobre seus processos de elaboração”
FAUUSP – 1994 Orientador Joaquim Guedes

This entry was posted in arquitetura e urbanismo and tagged , , , , , , . Bookmark the permalink.