Há mais ou menos 20 anos houve uma disseminação por várias áreas de conhecimento e profissões profissionalizantes, inclusive a sacrossanta medicina, de uma pedagogia que se denominou, em português castiço, PBL – Project Based Learning ou, para os monoglotas, Ensino Baseado em Projetos.
Integrante da família das pedagogias ativas, explicitamente baseadas na troca e na vivência (palavra conceito que malfadadamente recentemente passou a ser traduzida literalmente por aqui por ‘experiência’ ,o que muda muito), o PBL fundamentalmente leva às penúltimas consequências o fazer como protagonista do processo de ensino-aprendizagem, sem se descuidar de uma sólida e consistente base teórica, crítica e conceitual no desenvolvimento de habilidades, competência e POSTURAS dos estudantes.
Sou um fã desta linha pedagógica há décadas. Já coordenei, elaborei e participei de vários projetos pedagógicos baseados nela. De resto, nosso mestre maior neste campo, Anísio Teixeira – talvez o maior herói brasileiro – está aí com seus exemplos e discípulos para ilustrar tudo isso.
Por que este longo preâmbulo?
Porque no ensino de Arquitetura e Urbanismo o PBL não é de agora… No âmbito da corporação, vem desde a idade média, se organizou mesmo antes do Renascimento Corporações de Ofício, Guildas…) Aliás, ele propiciou o Renascimento!
Já no universo do ensino formal, ele é aplicado desde o século XIX, na academia e nas escolas de Belas Artes e de Pontes e Estradas, em especial pela via francesa. Se aprende fazendo e se faz aprendendo. Daí surgiram cursos de Arquitetura, de Engenharia, Escolas de Belas Artes, Institutos Politécnicos, sem esquecer os bravos e fundamentais 9inclusive o nosso) Liceus de Artes e Ofícios.
Importante esta lembrança, sobretudo num tempo em que alguns fazem questão de fingir que o mundo começou quando nasceram e se empenham em confundir instrumento com método, tomando um pelo outro. Tomando a parte pelo todo.
Recursos e instrumentos digitais, eletrônicos e de comunicação e conectividade plena são mais do que bem vindos. São absolutamente necessários ao processo de ensino-aprendizagem.
A disseminação de conhecimento de qualidade é vital para a sobrevivência da humanidade no planeta e, num país que produz mais desigualdade do que pode suportar como o nosso, é vital para que se possa sequer sonhar com a superação desta infâmia.
Então, se constrói uma Política Pública de Estado que desde 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) se consolida e diz que o EaD é ferramenta privilegiada para que se dê esta disseminação e que se atinja as porções mais desequipadas do território nacional. Muito bom!! Na verdade, mais que isso, é necessário!
No entanto, em 25 anos, quando o exponencial desenvolvimento das Tecnologias de Comunicação poderia viabilizar a materialização desta Política com uma eficácia inaudita, o que se tem é a distorção do uso do instrumento e da ferramenta, sua transformação em metodologia e, na área do Ensino de Graduação em Arquitetura e Urbanismo (incluam-se as engenharias) se jogam fora mais de 200 anos de experiência e 400 anos de prática…
A questão que se coloca é: onde se pretende chegar?
Mesmo que romanticamente a resposta seja, vamos descobrir no caminho, ainda resta a questão. E quem vem com a gente?
Sigamos.
Online? Talvez sim, talvez não, hora sim, hora não.
Mas, presentes, sempre presentes!
Valter Caldana