AMARAL NETO O REPORTER

Quando você descobre que inclusive a FAPESP, a maior, mais eficiente e mais rica agência de fomento científico do país, que financia a inteligência e a produção de conhecimento nacional, assumiu o projeto do Brasil fazendão, extrativista primário e locatário de terra nua (e arrasada), é hora de entender que o ciclo se completa.
A sua revista oficial trazer uma matéria neste tom, que desrespeita até mesmo a memória da vida e da morte de cientistas brasileiros numa reportagem digna de qualquer jornaleco é desalentador.
A explosão de Alcântara e o acordo de limitações de uso são tratados como se fossem episódios distantes, efemérides ocorridas num país longínquo, como se não tivessem a menor relação entre si e como se não houvesse nenhum ônus para vidas e para a ciência brasileira. Ao contrário, minimiza-os, coloca-os na ‘linha do tempo’.
Aliás, a leitura da matéria dá a impressão de que a explosão sequer seria mencionada, e o acordo de salvaguardas é tratado como “normal” e positivo, enaltecido o fato de que agora, como previsto, a base, que foi um laboratório, pode ser alugada. Mais ou menos como o salão de festas aqui do prédio.
Melhor pensar bem na próxima vez que o governador avançar sobre o cofrinho da fundação. Talvez ele tenha mais razão do que parecia na ocasião.
Mas, afinal, no Brasil atual, que entende que desenvolvimento tecnológico se compra, não havendo a necessidade de produzi-lo, ter um negócio de aluguel de terrenos e salões de festa e uma agência pública de fomento que o enaltece em sua revista é coerente.
Vou ver se tem umas reportagens do Amaral Neto no you tube.
___
Em tempo, se deu a impressão de que meu comentário desabafo aí em cima é uma leitura política de uma notícia científica, lembro que a revista não é científica, é noticiário. E, como tal, ao trazer um “box” registrando “o outro lado” no finalzinho da matéria à la FSP, permite uma leitura desta natureza. Posto que a fapesp assumiu um lado.

Valter Caldana

https://revistapesquisa.fapesp.br/pronto-para-decolagem/

This entry was posted in cotidiano. Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta