PROCURA-SE VIVA OU MORTA

Logo no início da pandemia apareceu uma expressão bem, deixa eu ver… escolhendo palavras … bem tola. Um tal de novo normal, a definição intelectualmente bacaninha (que é sempre uma variante ilustrada do negacionismo chucro) para o que se passava.
Alguns velhos ou seminovos, onde me incluo, logo reagiram observando que nada seria mais antigo do que este novo normal, nem mesmo caubói que dá cem tiros de uma vez.
O que se veria, dizíamos, é que de forma proporcional ao tempo de duração da pandemia o normal imperaria. Embrutecimento, reafirmação e acirramento das desigualdades, a manutenção da eficientíssima política pública do cada um por si e ninguém por todos… e a aceleração e a consolidação de arranjos que já estavam em andamento.
Tudo isto acompanhado, claro, do mais que velho, normal e indelével oportunismo que caracteriza a ação corporativista, segregadora e violenta de nossa sociedade.
Os parágrafos acima podem parecer uma reclamação, um pouco de mimimi, um certo nihilismo de segunda, talvez seja, mas estava aqui a ler os jornais e pensando. Tem coisa mais óbvia, e normal, do que sabermos há mais de mês que a variante delta deve chegar aqui em um mês – ou seja mais de dois meses de prazo de preparação – e nada ser feito para minimizar seus efeitos? Nenhum preparo, …, nada!
Pior. Tem coisa mais esquisita do que montar um cronograma de trabalho, como passei boa parte do dia ontem fazendo, levando em consideração a sua chegada, tentando entender se chegará na primeira ou na segunda semana de outubro, se haverá alguma ação governamental, se dará tempo de fazer tal ou qual ação presencial… ?
É definitivamente muito estranho ter que analisar as possibilidades de trabalho remoto ou presencial com a equipe no campo e, claro, mais estranho ainda incluir a possibilidade das internações e mortes no meio do caminho.
Tudo isso porque não há uma política pública minimamente eficaz e coerente (nem precisaria ser eficiente).
Todavia, se esta houvesse, seria, aí sim, um novo normal!!

Valter Caldana

This entry was posted in cotidiano. Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta