Queremos cidade!

A sociedade, em todo o mundo, descobriu a cidade.

Estamos na “urban age”. Finalmente, em 2009, mais de 50% da população mundial passou a viver em cidades.

Só que, por aqui, nos esquecemos que ultrapassamos esta marca, por diversos motivos – busca de emprego e renda em primeiro ligar – 40 anos antes. Desde 1969 nossa população é mais urbana do que rural. Hoje, já somos bem mais do que 85% da populaçào morando nas cidades e descobrindo a vida urbana.

E exigindo qualidade!

Qualidade de serviços, qualidade dos programas, qualidade das obras, qualidade dos espaços, qualidade de vida!

As manifestações de 2013 são testemunho inconteste desta nova realidade. Protestos lindamente organizados por uma sociedade que finalmente reagiu, solidária com a cidade, aos maus tratos que seus dirigentes lhe impõem…

Tudo isso com uma característica importantíssima e qualitativamente diferenciadora a ser considerada: trata-se hoje de uma população, de uma sociedade, que nasceu, cresceu e viveu na mesma cidade.

Uma sociedade, portanto, que tem laços de carinho, laços culturais, laços de vida com a cidade.

Deixamos para trás, já há algum tempo, aquela composição onde a maior parte da população era migrante e buscava, prioritariamente, sua sobrevivência ou, na melhor das hipóteses, ascensão social, para a qual nada além de questões materiais de curto prazo, naturalmente, importava. Uma sociedade que acabou sendo, deste modo, a um só tempo, vítima e cúmplice, agente e paciente de um modelo de expansão urbana que priorizou de um lado a mais elementar especulação, o mais primário extrativismo urbano completamente baseado na simples e monocelular acumulação primitiva.

E que, por outro lado, encontrou num sistema econômico e numa população ávida por estar, mais do que morar e habitar, na grande cidade, o fermento necessário para sua reprodução.

Mas o fato é que isto é História.

História rica, emocionante, importante. Nossa História.

E que a cidade mudou, os agentes mudaram, a sociedade mudou, os programas e as necessidades mudaram. A sociedade quer mais. Ela admira e deseja outra cidade. Outros espaços urbanos, outras prioridades, outros programas públicos.

Por isso observo com atenção, sobretudo entre os arquitetos, estudantes e uma pequena parcela da mídia formadora de opinião, as manifestações de desejo e admiração por soluções urbanas sofisticadas, criativas e radicais, respostas estrangeiras para esta nova cidade, tão complexa quanto as soluções que demanda.

E acabo me lembrando do enorme conjunto de soluções que já foram propostas, debatidas, anunciadas, por arquitetos e urbanistas e outros segmentos da sociedade, na universidade e no poder público, e que não foram adiante.

Propostas que já anunciavam, há muito tempo, a necessidade de mudança de rumos na produção da cidade, esta mesma que hoje se encontra em colapso produtivo (pois exige ação!).

E então penso…

Enfim, é bom olhar com desejo para o vizinho…

“cidades trocam rodovias urbanas por parques”

E é ótimo saber que também somos capazes!

Parque Tietê | Oscar Niemeyer – 1986

Mas é triste entender por que não somos…

A cidade que fizemos, como fizemos.

Em tempo…

A cidade para o cidadão, abaixo o minhocão!

Valter Caldana

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