Sobre árvores e batatas

Deu na Folha
Grupo desafia a Prefeitura e planta árvores no Largo da Batata [leia aui].

Belíssima a ação do grupo!!

Quero aqui destacar, porém, o quão didática, emblemática e triste é esta história do Largo da Batata, que vai se repetir em breve no Anhangabau…

Um dos lugares mais importantes da cidade do ponto de vista histórico, uma das portas de São Paulo, o Largo da Batata foi objeto de um concurso público de projetos organizado pelo IAB [veja aqui].

A equipe vencedora foi contratada para o desenvolvimento do projeto vencedor que foi, sistemática e indesculpavelmente alterado pelo poder público, com imposições de padrões urbanísticos para traçado, calçamentos, iluminação, arborização e mobiliário no mais das vezes discutíveis. Resultado: projeto modificado e mutilado. Fala o autor: [leia aqui]

Mesmo assim, a iniciativa privada acompanha… projetos para as áreas de entorno, em especial a área da CAC, de triste memória para tantos, cujas diretrizes também estavam no projeto vencedor do concurso, são feitos. Os térreos deveriam ser livres e acessíveis (numa antevisão do que quer o atual plano diretor).
As aprovações destes projetos se tornam impossíveis, pois o calvário das aprovações em São Paulo hoje é fartamente conhecido…

Começam as obras. Confusas, caóticas, logística estranha, nivelamento do grade assustador, obras intermitentes, de qualidade baixa, fiscalização precária… E longas, muito longas.
Isto por que é obra com dinheiro carimbado, da operação urbana, não sai do orçamento municipal, não sai de creche, escola, merenda escolar…

Só que o Largo, olha que coisa boa, fica “pronto” num momento em que o cidadão, a sociedade, já despertou, ainda que parcialmente, para a qualidade de vida urbana (arquitetura para todos, construindo cidadania). E esta sociedade, este cidadão rejeita a praça.
E, ao rejeitar a praça, espero, esteja rejeitando também o processo!

Ações voluntaristas, ou ações proativas, ou ações organizadas de protesto simbólico e de alerta a todos nós de que NÃO É ASSIM QUE SE FAZ CIDADE são extremamente BEM VINDAS. A cidade é do cidadão, os espaços públicos são nossos. A cidade é protagonista, não é palco. A cidade define a minha, a sua, a nossa qualidade de vida.
Mas assim devem ser entendidas. Como protestos, como alertas, como símbolos. E não como uma forma de construir cidade, tão equivocada quanto a atual.

O fato é que, agora, não adianta aumentar ainda mais o caos.

Cabe à sub-prefeitura ouvir e entender este protesto e assumir a liderança do processo. Organizar debates públicos, acionar o CONSELHO DE REPRESENTANTES, resgatar o projeto original, redefinir prioridades e o programa funcional pretendido, rever a ocupação das áreas lindeiras, em especial da CAC e a ligação com o mercado municipal, respeitar autorias e chamar/contratar os autores do projeto e traçar um plano de resgate das qualidades urbanas que se pretende para o Largo da Batata nesta nova fase da cidade e da apropriação dos espaço público pelo cidadão e pela cidadania.

Não podemos, pelas avessas, reafirmar e máxima que nos persegue desde os tempos coloniais, ou seja,
O QUE É PÚBLICO É DE TODOS.
COMO TODOS É MUITA GENTE, O QUE É DE TODOS É DE NINGUÉM.
PORTANTO, POSSO PEGAR PARA MIM.

Sem projeto, não há futuro. Há apenas a inexorável decrepitude e dilaceração do presente.

Valter Caldana

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