Hoje recebi um manual de arborização urbana (veja aqui) pensei: e se cada cinco paulistanos plantassem uma árvore em frente de casa, do trabalho, ao lado do ponto de ônibus e uma vez por semana cada um deles olhasse a pobrezinha… Em uma só tacada plantaríamos 2.000.000 (dois milhões) de árvores!!!
Então me lembrei que há muitas tabelas e “check lists” de classificação e definição de qualidades urbanas, feitos por grandes arquitetos e resolvi, então, colocar no papel os meus cinco pontos, (feitos, portanto, por um arquiteto grande), que utilizo e defendo há anos e nunca os havia escrito.
É claro, estes pontos não prescindem de educação, distribuição de emprego e renda, saúde, habitação, transporte. Falo aqui de outra escala de intervenção e de outras materialidades.
São cinco pontos que se aplicados de modo interligado, em combinações e arranjos solidários (fatoriais, né mané montagnoli !?) nos levam a uma enorme elevação da qualidade de vida individual e coletiva, com pequenos investimentos públicos, grande envolvimento da sociedade e resultados significativos no tocante à inclusão, sentimento de pertencimento e segurança.
São eles:
. Paisagem (Lei cidade limpa à frente, uso e ocupação do solo no suporte)
. Calçamento (amigável, permeável, macio)
. Fiação (enterrada)
. Arborização (viária urbana, não se refere apenas a praças e parques)
. Mobiliário (pontos de informação, bancas, bancos, sanitários, pontos de conectividade, encontro, descanso, estar…)
Do mesmo jeito que vivemos um ciclo vicioso – as ruas são desagradáveis pois são feias, inóspitas e inseguras, são feias, inóspitas e inseguras por que são pouco usadas, são pouco usadas pois são feias, quentes e esburacadas, são quentes por que têm poucas árvores e sombras, não têm locais de estar, esburacadas por que são pouco usadas e mal tratadas, têm poucas árvores por que têm muitos fios e têm muitos fios por que ninguém fica nelas e tanto faz mesmo…
Podemos construir um ciclo virtuoso – alargar calçadas, abrir espaços de usufruto (mesmo que visual) público, assumir a calçada como sendo o espaço protagonista da rua, enterrar fios e fazer brotar e crescer árvores, sombras, estares, conectar sistemas, acolher pessoas.
É muito mais simples do que parece.
Começa pela descentralização, pela valorização das Sub-Prefeituras, transformando-as em Unidades Orçamentárias com maior grau de autonomia na elaboração, gestão e realização do orçamento e valorização dos Conselhos Regionais, que devem ter espaços de deliberação.
Se observarmos bem,, tudo isso acima custa apenas tinta de caneta e folhas, poucas, de papel sulfite. O caro aí é só a VONTADE POLÍTICA.
Valter Caldana
* vou contar esta historieta na nota de rodapé para que seja lida só pelos heróis que chegaram até aqui. Era 1973, 74 ditadura braba, os cara ainda de plantão na porta de minha casa, um belo dia a vizinhança é avisada que o governador Laudo Natel faria um passeio pela rua, lançando um novo programa de arborização urbana.
Veio a pé, com o Colassuono se não me engano, claro que rodeado de seguranças e assessores, e deixou em cada casa que tivesse uma criança acima de 8 ou 10 anos um regador de plástico e um saquinho de sementes. E as (nos) encarregou de cuidar das árvores que tinham recém plantado na rua, semanas antes.
Desnecessário dizer que passamos a ser guardiães eficientíssimos das árvores, torcendo para que se tornassem frondosas o quanto antes.
Desnecessário dizer, também, que anos depois foram cortadas pois estavam atrapalhando a fiação…
Me parece tão distante e contraditório… Mas afinal, qual a dificuldade do atual alcaide fazer algo assim? Em tempo… não, não tenho o regador.